A tradicional cerimônia de lavagem do Cais do Valongo, localizado na região da Pequena África, no Rio de Janeiro, foi realizado na manhã deste sábado (26). Reaberto ao público em novembro de 2023, o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, hoje, simboliza a resistência e a celebração às tradições africanas.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2013 e reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco quatro anos depois, em 2017, o Cais teve sua 14ª lavagem realizada pela Mãe Edelzuita, Iyalorixá Edelzuita de Oxaguian.
O secretário-executivo do Ministério da Cultura, Marcio Tavares, destacou a importância do espaço para a cultura e para a história do Brasil. “Esse é um patrimônio central para a reparação histórica do povo negro, que sofreu tanto no nosso país, que doou tanto e ainda doa pelo nosso país. E que tem papel central na nossa cultura”.
- Foto: Geovane Ferreira
E completou: “É preciso que todos os 203 milhões de brasileiros saibam a importância desse lugar para a nossa história, para o nosso presente e para o nosso futuro. Por que se o Brasil quer ser uma democracia, que tem espaço para todos, que supera as desigualdades, a cultura negra precisa ser valorizada e a história e a memória do povo negro precisam ser preservadas. Isso é tarefa do Estado, do Ministério, num trabalho conjunto e federativo”.
O Cais do Valongo é um sítio arqueológico construído pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro. Usado para o desembarque de africanos escravizados, estima-se, que tenha recebido mais de um milhão de negros escravizados ao longo de 300 anos.
Fernanda Thomas, diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afrobrasileiro da Fundação Cultural Palmares (FCP), destacou o papel de resistência do espaço. “Aqui, junto com a Pequena África também, é um lugar de multiplicidade de culturas negras”, afirmou ao destacar que o edifício Docas André Rebouças recebeu o nome do engenheiro responsável por sua construção. Um homem negro que se assegurou que a obra não tivesse mão de obra escravizada.
Estiveram presentes ainda a secretária de Articulação Federativa e Comitês de Cultura (SAFCC), Roberta Martins; Pai Ivanir dos Santos; e os secretários municipais Adilson Pires (Direitos Humanos e Igualdade Racial); Lucas Padilha (Cultura); e Édson Menezes (Coordenação Governamental);
- Foto: Geovane Ferreira
Edifício Docas
O Governo Federal garantiu, em 2025, os investimentos para a reforma do edifício Docas André Rebouças. Os recursos são do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Publica (MJSP), fruta da articulação do Ministério da Cultura, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Fundação Cultural Palmares.
O projeto contará com um investimento de R$ 86,2 milhões e foi apresentado ao Comitê Gestor do Cais do Valongo.
“Esse ano é um ano de revolução na Pequena África, ela passa a ter cara, passa a ter identidade. E o Iphan, junto ao Ministério da Cultura, toca toda essa ação. Por isso essa lavagem tem um perfume especial, um perfume de renovação”, afirmou Patrícia Wanzeller, superintendente do Iphan no Estado do Rio de Janeiro.
Pequena África
A região da Pequena África, onde o Cais do Valongo está situado, é referência da herança africana no Rio de Janeiro. O sambista Heitor dos Prazeres (1898-1966) deu esse nome è área que abrande os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, na zona portuária. Ocupada por uma população majoritariamente negra, sua história está intimamente ligada ao tráfico transatlântico de escravizados, à diáspora africana e ao nascimento do samba.
Fonte: Ministério da Cultura