Um barco que navega pelos rios da Amazônia levando atendimentos de saúde e atividades culturais. Mestras e mestres das culturas tradicionais com seus conhecimentos ancestrais sobre ervas e plantas medicinais. Exposições de arte produzida por pacientes em tratamento psiquiátrico. Pontos de Cultura integrados com Centro de Atendimento Psicossocial para promover saúde mental. Esses foram alguns dos exemplos apresentados na oficina realizada pelo Ministério da Cultura (MinC), nesta terça-feira (24), sobre a relação da cultura na promoção da saúde e do bem-estar da população.
A iniciativa integra uma série de encontros voltados a discutir o papel do setor cultural na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), realizados em parceria com a Comissão Nacional dos ODS, coordenada pela Secretaria-Geral da Presidência da República. O foco desta edição foi o ODS 3, que propõe assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas, em todas as idades, até 2030.
“Foi uma discussão muito rica e um momento importante de troca de experiências. Tivemos a participação de integrantes do Sistema MinC, Ministério da Saúde, Fiocruz, ONGs e Pontos de Cultura. Nós estamos tecendo essa política e amadurecendo, principalmente, esse olhar de como a cultura é estratégica para a saúde individual e coletiva”, avaliou a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg.
A diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Ângela Leal, destacou a importância da oficina para fortalecer a articulação entre os dois temas e a transversalidade da Agenda 2030. “A cultura é uma forma de construção de vínculo e de fortalecimento das práticas e dos saberes dos territórios. Ela influencia profundamente em todo esse processo de cuidado, inclusive em como se percebe e se identifica a questão da saúde, do adoecimento, do processo de cuidado e de cura”, afirmou.
Em agosto de 2024, os ministérios da Cultura e da Saúde estabeleceram um Acordo de Cooperação Técnica. Uma das ações em conjunto prevê a integração da rede de Pontos de Cultura com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Segundo a secretária Márcia Rollemberg, é importante que os grupos e entidades culturais se sintam como promotores de saúde.
“Em alguma medida, quem faz cultura, quem faz arte promove saúde. Então, faremos uma pesquisa que busca instigar os pontos a pensarem essa dimensão da saúde nas suas ações do dia a dia na cultura”, afirmou.
- Foto: Victor Vec/ MinC
Experiências
Durante a oficina, diversas experiências foram compartilhadas. Entre elas, o trabalho do Ponto de Cultura Saúde e Alegria, que atua desde 1987 na Amazônia, com a arte, o lúdico e a comunicação popular. Sediado em Santarém, no Pará, o projeto conta com dois navios-hospitais e o Gran Circo Mocorongo, no qual ribeirinhos apresentam músicas, poesias, esquetes educativas e culturais.
“A origem da organização sempre foi essa união entre saúde e cultura. Foi a forma que encontramos de dialogar e de levar os conhecimentos, os assuntos de saúde para a população rural. Então, o Saúde e Alegria começou como um projeto de saúde, usando o palhaço, a brincadeira, a cultura e a valorização dos talentos das comunidades. Desde o início, a gente sempre entendeu isso: promover a saúde através de práticas culturais e de práticas artísticas”, explica o representante da organização, Fábio Pena.
Para ilustrar a importância das práticas artísticas na promoção da saúde mental, foram convidados dois projetos sediados no Rio de Janeiro: o Museu de Imagens do Inconsciente, fundado pela psiquiatra Nise da Silveira em 1952 e que abriga obras produzidas por pacientes em ateliês terapêuticos; e o bloco de carnaval Loucura Suburbana, que integra usuários, familiares, profissionais da saúde mental e moradores do bairro Engenho de Dentro.
“A nossa trajetória de 25 anos comprova a importância e a potência da cultura na saúde mental. A gente tem certeza de que isso tem que ser ampliado para todos os CAPs e se constituir realmente um sistema integrado entre cultura e saúde. Cultura e arte transformam vidas, instituições e a sociedade”, comentou a diretora do Loucura Suburbana, Ariadne Mendes
No campo das tradições, Ana Maria da Silva Soares, fundadora do Ponto de Cultura Coletivo Minhas Plantas, Meu Quintal, em Belo Horizonte, falou sobre o resgate dos saberes das raizeiras e benzedeiras. “Estamos há 10 anos trabalhando para valorizar essas tradições em grandes cidades, como Belo Horizonte. Então, a gente trabalha com a cultura, que titula nossas mestras e mestres, e com meio ambiente e a segurança alimentar, para discutir como trazer o plantio de ervas para os quintais das casas e até nos apartamentos. Então o nosso coletivo caminha internamente para fortalecer nossas tradições, nossos grupos de terreiros e o cultivo de ervas porque a gente sabe que essa é uma prática que veio na oralidade e do passado”, falou.
Além das experiências dos Pontos de Cultura, o MinC apresentou ações como o programa Territórios da Cultura, que visa ampliar o acesso à infraestrutura cultural no país, e iniciativas do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para reconhecimento de práticas tradicionais de cuidado. Um exemplo é o ofício das parteiras, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em maio de 2024.
Sobre o projeto
A série de oficinas busca fortalecer a ideia de criar um ODS específico para a Cultura, tema que será discutido na próxima Conferência Mundial da Unesco sobre Políticas Culturais (Mondiacult). A primeira oficina do projeto, realizada em abril, focou no ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), promovendo um debate sobre o papel da cultura na preservação do patrimônio e na criação de cidades mais inclusivas e sustentáveis.
As próximas atividades previstas para 2025 são:
– 7 de agosto: Cultura e Igualdade Étnico-Racial (dialogando com o ODS 10);
– 16 de setembro: Cultura de Paz e Cooperação (ODS 16 e 17);
– 18 de novembro: Cultura, Preservação Ambiental e Emergência Climática (relacionado aos ODS da dimensão ambiental).
Fonte: Ministério da Cultura