Em alguns trechos, a fronteira entre o Acre e a Bolívia é terrestre. Em outros, é delimitada por rios. Na região de Brasileia, grande parte da divisa é marcada pelo Rio Acre, o que provoca impactos diretos nos dois países durante o período de cheia. Para minimizar os danos causados pela erosão fluvial, o governo boliviano iniciou obras de contenção às margens do afluente na cidade de Cobija. Nesta sexta-feira, 13, equipes do governo do Acre realizaram uma visita técnica ao local para acompanhar os trabalhos.
A comitiva acreana foi composta por representantes do Departamento de Estradas de Rodagem, Infraestrutura Hidroviária e Aeroportuária (Deracre), da Secretaria de Estado da Casa Civil (SECC) e da Defesa Civil estadual, além de contar com a presença do superintendente do Acre do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Ricardo Araújo. A agenda teve início com uma reunião promovida pelo Ministério da Defesa Civil da Bolívia, em que foram apresentados os detalhes do projeto de contenção, incluindo as soluções técnicas adotadas para enfrentar os efeitos da força das águas do Rio Acre, que intensificam a erosão durante o período chuvoso.
Durante a reunião, os representantes bolivianos destacaram o papel da força-tarefa designada pelo governo do país para coordenar as obras em Cobija. Os trabalhos envolvem principalmente a construção de muros de contenção, com o objetivo de proteger áreas urbanas e evitar o deslocamento de áreas residenciais.

A equipe técnica acreana pôde compreender a importância do planejamento e da execução das ações coordenadas pelo país vizinho. Segundo o diretor-executivo da Defesa Civil do Acre, capitão Rogério Oliveira, a visita foi fundamental para reconhecer o trabalho que está sendo feito e reforçar os laços entre os país, visando prol do bem-estar das duas populações.
“Houve algumas mudanças nos projetos da Bolívia, e elas servem para tranquilizar e apaziguar a população, no sentido de que não serão construídas comportas nem qualquer coisa que possa causar complicações do lado brasileiro. Essas obras são muito importantes, porque devemos investir muito mais em prevenção, para evitar termos ainda mais trabalho com recuperação, como está acontecendo. A prevenção e as obras estruturantes trazem soluções e evitam gastos”, afirmou o capitão.
Vistorias
Após a reunião técnica e a apresentação detalhada dos projetos, as equipes dos dois países iniciaram uma etapa prática da visita com as vistorias in loco das obras de contenção. Duas equipes utilizaram embarcações para percorrer trechos estratégicos do Rio Acre, tanto no lado boliviano quanto no lado brasileiro, enquanto um terceiro grupo realizou o sobrevoo da área com o apoio de um helicóptero disponibilizado pela Defesa Civil da Bolívia.
A ação permitiu uma visão ampla das intervenções já em andamento, além de facilitar a identificação de pontos críticos ainda vulneráveis à erosão e à força das águas. As equipes puderam observar de perto as estruturas já construídas, como os muros de arrimo e os reforços nas margens do rio. Durante o percurso aéreo, também foi possível visualizar o impacto da cheia mais recente, que deixou marcas visíveis no município de Cobija.
O vice-ministro da Defesa Civil da Bolívia, Juan Carlos Calvimontes, ressaltou a importância da cooperação bilateral e o papel fundamental dos trabalhadores que atuam na região, além de pontuar o impacto dessas construções para o futuro da população de Cobija.
“O principal benefício para Cobija é a recuperação de avenidas que foram afetadas e desmoronaram devido às intensas chuvas que ocorreram. Serão recuperadas áreas verdes, será recuperada infraestrutura esportiva que também foi danificada, mas, fundamentalmente, será garantido que, no futuro, não continuem ocorrendo deslizamentos e danos, pois já há risco de muitas moradias no lado boliviano serem afetadas caso as chuvas continuem”, disse Juan Carlos.
Já o superintendente do DNIT no Acre, Ricardo Araújo, enfatizou a relevância da experiência boliviana e que irá levar o conteúdo para Brasília. “Quando se mexe muito com questões de drenagem e escoramento, tudo isso pode acabar alterando o leito do rio, mudando sua direção, como aconteceu em Tarauacá. Então, essa era a nossa preocupação. Já estamos percebendo aqui que essas questões estão sendo consideradas, e precisamos manter boas relações ao longo do tempo. Por isso, vimos que essa visita foi muito importante: esclareceu muitas dúvidas, e eu vou repassar essas informações ao governo federal”, pontuou o superintendente.
Orla de Brasileia
Já no lado brasileiro, o governo do Acre, por meio do Deracre, também vem realizando suas próprias intervenções na tentativa de mitigar a erosão fluvial, com destaque para a execução das obras de urbanização e contenção da Orla de Brasileia. A iniciativa faz parte de um esforço mais amplo do Estado para enfrentar os impactos provocados pela força das águas, especialmente em períodos de cheia.
Recentemente, o Departamento de Estradas de Rodagem realizou vistoria na concretagem da orla, uma das etapas importantes da obra. A estrutura de contenção, que inclui gabiões e calçamento com concreto armado, busca proteger a margem do rio e ao mesmo tempo garantir um espaço urbano seguro e de entretenimento para a população local.
O diretor de Planejamento da pasta, Júlio Martins, salientou: “Estamos executando, neste momento, uma etapa de 408 metros com o sistema de bolsa creta e colcha creta. Temos aproximadamente 30% da obra concluída e, agora, estamos na fase de mobilização para retomar os trabalhos neste verão. Se tudo ocorrer conforme o previsto no cronograma financeiro, conseguiremos concluir a obra até o final do ano”.
A obra foi planejada em quatro etapas, visando garantir uma execução eficiente e adaptada às necessidades estruturais da região. Com previsão de conclusão até o final de 2025, essa primeira etapa conta com recursos provenientes de emendas parlamentares. O investimento tem possibilitado o avanço das obras dentro do cronograma estipulado.
Além disso, o governo estadual também tem atuado em Brasília, em articulação com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, para a liberação de recursos financeiros que permitam a continuidade e ampliação das obras. A proposta é garantir a execução das próximas fases do projeto, que incluem a construção de escadarias de acesso ao rio, ciclovias e áreas de lazer.
Cheia histórica
Em 2024, Brasiléia enfrentou a maior cheia já registrada em sua história, com o nível do Rio Acre chegando em 15,58 metros e atingindo milhares de pessoas. A força das águas causou prejuízos significativos à infraestrutura urbana, com alagamentos em áreas comerciais, escolas, unidades de saúde e residências.
Já em 2025, embora o volume do rio não tenha alcançado o mesmo patamar do ano anterior, novamente a cidade sofreu com uma nova cheia, reforçando a ocorrência anual e cada vez mais intensa desses eventos climáticos que afetam quase 100% do estado.
As enchentes recorrentes têm afetado não apenas o município brasileiro, mas também Cobija Diante desse cenário, obras de contenção e requalificação urbana, como a construção da Orla de Brasileia, ganham ainda mais relevância.