Antes de ir para o sistema de acolhimento, Keyller dos Santos morava com a família. Mas por conta da negligência em casa, ele achou outro lugar para chamar de lar. “Aqui eu vi que tinha uma liberdade maior de poder me comunicar, me expressar, ter uma segurança, em quem confiar”.
O relato do jovem de 18 anos reflete a realidade vivida por diversas crianças e adolescentes do país. As dificuldades enfrentadas pelo estudante mostram que o trabalho da assistência social pode mudar vidas e proporcionar novos caminhos. Hoje, Keyller vive em uma das unidades de acolhimento de João Pessoa, a Casa Lar Manaíra.
Nesses locais, são oferecidos os serviços especializados de acolhimento e proteção a indivíduos afastados temporariamente do núcleo familiar e/ou comunitários e em situação de abandono, ameaça ou violação de direitos. As unidades funcionam como moradia provisória até que a pessoa possa retornar à família, seja encaminhada para família substituta ou adoção, quando for o caso, ou alcance a sua autonomia.
Após a chegada de Keyller no acolhimento, a equipe intensificou os encaminhamentos de profissionalização e educação para o jovem. Ele foi matriculado na escola e inserido no curso preparatório para o Enem, prestou vestibular para medicina veterinária e, agora, aguarda ansioso o resultado da segunda chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o curso na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
“Espero conseguir ter uma jornada acadêmica da forma que eu realmente gosto, da qual eu almejo, e que seja algo que eu possa trabalhar, que me faça feliz e continue sempre aí buscando as minhas coisas”, projetou Keyller.
A estudante Maria Clara de Oliveira, 18 anos, também viu no Lar Manaíra uma oportunidade de apoio para recomeçar a vida. “Tive um abuso sexual e o abandono familiar. Depois disso fui para casa de passagem, onde fiquei dois meses. Lá eles procuraram familiares, aí não tinha ninguém e me encaminharam para cá”, relatou.
Quando foi acolhida, a jovem não tinha documento nem estava matriculada na escola. “Estava sem direção. Eu já tinha entrado aqui com o intuito de estudar, de querer crescer na vida, porque eu sempre tive isso na minha mente”, recordou Maria Clara. Apesar de não viver mais na Casa Lar Manaíra, a estudante continua fazendo visitas frequentes ao local para rever os amigos. “Aqui eu me sinto em casa. Então, nunca deixo de vir aqui”.
Ela ainda faz questão de ressaltar a importância da assistência social na garantia da própria independência. “Comecei a fazer curso, entrei no jovem aprendiz, meu primeiro estágio foi na padaria, passei uns três meses lá, aí depois veio o jovem aprendiz da Caixa Econômica”, contou. Ela realizou o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e, agora, o objetivo é prestar vestibular para o curso de direito. Para isso, está no pré-vestibular se preparando para o Enem.
SUAS
A Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) é a responsável pela gestão nacional da Política de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Além das unidades de acolhimento, o SUAS conta com uma extensa rede de unidades públicas, que realiza atendimentos para pessoas ou grupos em situação de vulnerabilidade social, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) e Centro Dia.
Com o objetivo de fortalecer o SUAS, o Fundo Nacional da Assistência Social (FNAS) investiu cerca de R$ 3,4 bilhões em programas e serviços de assistência social em todos os municípios e Unidades da Federação em 2024. O montante é referente ao cofinanciamento federal do SUAS e provém de recursos alocados de forma ordinária e por emendas ao orçamento.
Em 2024, a proteção social especial, voltada para pessoas em situação de risco pessoal e social, como vítimas de violência e negligência, recebeu R$ 480 milhões. Os recursos foram empregados nas unidades dos CREAS, além do serviço de acolhimento para crianças, adolescentes e idosos e serviços para pessoas em situação de rua.
O resultado do investimento é evidenciado, com gratidão, por Keyller. “Eu vejo o Lar como se fosse a minha segunda família. Como eu falei, eu não tive esse acolhimento, eu não tive esse carinho, essa atenção voltada para mim ao longo de toda a minha vida. E aqui no Lar eu tive essa liberdade”, relatou o jovem.
Assessoria de Comunicação – MDS
Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome