Comida Daqui: documento aponta a importância das culturas locais e mercados territoriais na garantia do acesso a alimentação saudável

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Uma visão ampla e abrangente sobre as diversas redes alimentares, com o objetivo de promover a alimentação sustentável, com foco em hábitos comunitários, e enfrentar a crise das cadeias globais de alimentos industriais. Esse é o propósito principal do relatório “Comida Daqui”, produzido pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food).

A versão em português do documento foi lançada nesta terça-feira (27.05) durante a quinta edição da Conferência One Planet, que reúne até o dia 29, em Brasília, membros da sociedade civil, governos, pesquisadores, organizações internacionais e setor privado, entre outros atores sociais do Brasil.

O evento debate e premia práticas que visam ao avanço da pauta da segurança alimentar às vésperas da COP30, fórum de discussões climáticas que será realizado em Belém, no Pará, entre 10 e 21 de novembro.

Para a professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB) Elisabetta Recine, doutora em saúde pública e membro do IPES-Food, o tema é prioritário no Brasil e no mundo face às aceleradas transformações climáticas em escala planetária.

“O Brasil tem sempre o desafio de lidar com a sua magnitude, com as suas experiências de transformação, de mercados territoriais, de circuitos curtos no país como um todo”, sublinhou a especialista.

A nutricionista acrescenta que o caráter territorial e cultural das comunidades deve ser potencializado para que as políticas públicas do setor sejam bem-sucedidas universalmente.

“O que a gente precisa compreender é que essas experiências são o que a gente necessita para a transformação dos sistemas alimentares. Fazer essa articulação desde o nível do território e ter uma comunicação muito fluida e consistente entre o que acontece no território e o que precisa ser definido em nível nacional”, prosseguiu.

O relatório Comida Daqui” conclama aos governos que reinvistam na infraestrutura de abastecimento local e regional, bem como defende a reformulação de compras públicas e de estratégias de segurança alimentar, de modo a reduzir a captura dos sistemas alimentares pelas grandes corporações privadas.

O documento lista ainda contribuições cruciais para a sustentação dos meios de subsistência dos pequenos produtores, facilitando o acesso das populações mais pobres à alimentação saudável, fortalecendo-as em momentos de crise.

Confira a entrevista com a professora Elisabetta Recine:

Qual a relevância do relatório do IPES-Food neste ano em que o Brasil sedia a COP-30?

Ele foi elaborado na perspectiva de reconhecer a importância dos mercados territoriais. Não apenas para garantir um processo de oferta de acesso a alimentos saudáveis de uma maneira mais ampla, mas também como uma maneira de reorganizar e transformar os sistemas alimentares.

A ideia é que tanto a produção quanto o consumo, da maneira como eles ficam cada vez mais localizados, gera um processo de transformação social e econômica dos territórios. Além de melhorar a alimentação, recuperar o patrimônio e a cultura alimentares.

São experiências que ocorrem no mundo inteiro, e que precisam não apenas ser reconhecidas, mas também valorizadas, fortalecidas e apoiadas, para que elas não sejam apenas mais alguns pequenos exemplos. Para que sejam, na verdade, a regra de como a gente consome e produz alimentos no planeta.

Como enfrentar questões como dimensões continentais e entraves burocráticos para implementar os propósitos do relatório?

O Brasil tem sempre o desafio de lidar com sua magnitude – seja territorial, seja de problemas, de desafios. Tem de lidar com suas experiências. Experiências de transformação, experiência de mercados territoriais, de circuitos curtos no país como um todo. O que está sendo implementado pelas comunidades, pelos povos indígenas, pelos povos e comunidades tradicionais.

O que a gente precisa compreender é que essas experiências são o que a gente necessita para a transformação dos sistemas alimentares. Fazer essa articulação desde o nível do território e ter uma comunicação muito fluida, muito consistente entre o que acontece no território e o que precisa ser definido em nível nacional.

O relatório de fato encontrará eco na COP-30, em termos de política pública a ser incorporada à vida nacional?

Essa é a grande demanda das decisões relacionadas à crise climática. Se nós não encararmos essa transformação por esse caminho, dificilmente nós vamos chegar aonde precisamos. Essas experiências mostram, primeiro, o vigor e a viabilidade desse tipo de modelo. E, também, são experiências que geram maior cuidado, maior fortalecimento, recuperação da natureza, das questões climáticas. Então, elas precisam ser encaradas como soluções reais, e não soluções homogêneas. A diversidade é a regra da transformação. Precisamos dar espaço para a diversidade.

SERVIÇO – Conferência One Planet

Data: 27 a 29 de maio de 2025

Tema: “Superando os obstáculos à transformação dos sistemas alimentares –  Políticas coerentes e soluções sensíveis à equidade para combater simultaneamente a fome e a desnutrição, a perda de biodiversidade e a crise climática”

Objetivo: Apresentar soluções práticas que possam ser adaptadas e replicadas em diferentes contextos para impulsionar a transformação dos sistemas alimentares, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Assessoria de Comunicação – MDS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome