O tema conhecimentos tradicionais, letramento e leituras de mundo abriu a programação de mesas de debates desta sexta-feira (1º) da Casa MinC, espaço institucional do Ministério da Cultura na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Segundo o diretor de Promoção das Culturas Tradicionais e Populares, Tião Soares, o Ministério tem reforçado a importância da inclusão desses conhecimentos na grade curricular das escolas, das universidades e demais espaços onde a educação acontece, contribuindo para a difusão de novas leituras de mundo.
“Nesse sentido, a educação deve, evidentemente, contemplar formas de letramento que reconheçam e integrem essas sabedorias tradicionais, permitindo que o aprendizado seja alargado, porque ele concebe um pensamento dialógico”, explicou. “Esses conhecimentos não podem ser negados dentro do conhecimento acadêmico dado a importância dos dois. O conhecimento tradicional não é maior ou menor que o conhecimento acadêmico”, acrescentou Tião.
Esse tema tem sido abordado no âmbito da construção da Política Nacional para as Culturas Tradicionais e Populares, coordenada pela Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultura (SCDC). Durante o evento, o secretário de Formação, Livro e Leitura, Fabiano Piubá, também elencou algumas ações realizadas pelo Ministério da Cultura nessa área. Entre elas, a parceria com o Ministério da Educação, tanto para garantir a inserção desses saberes nos currículos da educação básica quanto a atuação e o reconhecimento das mestras e mestres nas universidades e institutos federais.
“São ciclos de saberes em que os mestres e mestres de tradução popular e os grupos de tradução lecionam dentro da universidade, nas escolas de educação básica, sobretudo as escolas de tempo integral, ensino fundamental e ensino médio, mas também nos seus próprios espaços”, explicou Piúba. E completou: “Toda casa, oficina, ateliê, terreiro de um mestre e de uma mestra de tradição popular é um museu, uma escola e uma biblioteca, ao mesmo tempo. O museu porque é um lugar de memória, de acervo e ancestralidade. Uma escola porque é um lugar de transmissão de saberes e uma biblioteca porque esses senhores e senhoras são bibliotecas vivas e orgânicas”.
- Fotos: Luciele Oliveira/ MinC
Ao participar dos debates, Marilda de Souza Francisco, liderança do Quilombo Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis (RJ), compartilhou a sua experiência de crescer em um local marcado pela tradição da oralidade, com a contação de histórias passadas de geração em geração.
“O que predomina na minha geração era a história oral. Sou oriunda desse povo que contava a história três vezes para você aprender, contada de pai para filho, de avós para netos, em rodas de conversa. O meu pai era um historiador nato. Esse contar histórias é um conhecimento de mundo porque, apesar da gente morar em um lugar que não tinha acesso a muitos livros, tinha muito conhecimento ali. Eu cresci nesse mundo de contação de histórias”.
A mesa também contou com a presença de Indira Alves França, servidora da Fundação Oswaldo Cruz e pesquisadora no Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). Ela destacou a importância dos conhecimentos tradicionais e populares frente à emergência climática por terem uma lógica baseada na coletividade e no respeito à natureza.
“Esse diálogo vai trazer saídas diante dessa crise climática que estamos vivendo e para que a gente consiga formas alternativas de viver nesse mundo. É preciso reconhecer e valorizar como uma das nossas maiores riquezas a diversidade cultural e os diferentes modos de vida que existem aqui”, comentou.
Para ela, é imprescindível que instituições, especialmente as educacionais, aprendam a escutar e dialogar com os diferentes saberes. “A gente busca uma educação diferenciada, que consiga dialogar e levar em consideração esses modos de vida e conhecimentos para transformar o mundo. A escola é um espaço de mudança e formação para que as pessoas tanto entendam sua identidade, se posicione de acordo com essa identidade e busque um mundo melhor. A gente defende muito do diálogo de saberes. Não é demonizar a ciência, que tem a sua importância, lógica e defeitos. A gente precisa transformar a ciência. Através do diálogo entre os diferentes saberes vamos construir novos conhecimentos”, concluiu.
Fonte: Ministério da Cultura