Milão (Itália) — Representantes do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), agências reguladoras e parlamentares conheceram nesta quarta-feira (30) dois empreendimentos de referência em gestão de resíduos sólidos urbanos na Itália. A agenda técnica, parte do Benchmarking Internacional Saneamento e Resíduos Itália–Portugal, incluiu visitas à central da empresa pública A2A, na província de Pavia, e à planta da empresa REA, localizada em Dalmine, na província de Bérgamo, também na região da Lombardia.
Os encontros mostraram como diferentes tecnologias — da compostagem à incineração com reaproveitamento energético — podem compor um sistema integrado de valorização de resíduos, com benefícios ambientais, econômicos e sociais. A missão brasileira também ouviu os gestores locais sobre as tecnologias empregadas, custos operacionais e modelos de negócio adotados.
Tecnologia avançada
A visita à planta industrial da REA Dalmine, do grupo Greenthesis, apresentou um modelo de incineração de resíduos sólidos urbanos com aproveitamento energético. O sistema processa até 150 mil toneladas de resíduos por ano, gerando eletricidade e calor que hoje abastecem mais de 11 mil residências da região. Todo o processo é feito em ambiente fechado e despressurizado, com rigoroso controle de emissões e tratamento dos gases antes da liberação na atmosfera.
Após percorrer as instalações de alta tecnologia, que produzem até 140.000 MWh por ano de energia térmica, o secretário de Fundos e Instrumentos Financeiros do MIDR, Eduardo Tavares, destacou que o maior desafio brasileiro ainda é básico: resolver a presença de mais de 3 mil lixões ativos no país.
“A solução não é padronizada, principalmente porque, para a maioria dos 5.570 municípios, a resposta individualizada não é viável. Então é preciso pensar regionalmente: que tipo de arranjo e tecnologia pode garantir um custeio viável, com modicidade tarifária, e ao mesmo tempo resolver o problema da destinação que tem contaminado nossas águas e comprometido a saúde da população”, afirmou Tavares.
Investidores internacionais
O responsável pelo desenvolvimento de negócios da REA, William Epis, vê no Brasil um potencial estratégico, mas alerta que o ambiente de negócios precisa oferecer investimentos massivos e segurança contratual para atrair investidores.
“No caso de conseguirmos criar uma rede com a possibilidade de propor, digamos, três, quatro, cinco plantas industriais de boa dimensão, aí sim é possível pensar em criar uma filial brasileira que opere com prefeituras locais e outros parceiros industriais, para desenvolver uma atividade como esta, com o gerenciamento de resíduos e, em particular, a energia proveniente de resíduos”, explicou Epis, acrescentando que encontrar parceiros locais para a operação é essencial, devido às necessidades de manutenção.
“Podemos importar a tecnologia italiana, mas depois alguém localmente precisa conhecer essa tecnologia. Para nós, é importante também ter um parceiro local, para ter a possibilidade de crescer juntos, que essa riqueza permaneça no território onde a planta está localizada, senão não é viável para a população local”, ressaltou.
Valorização de resíduos orgânicos
Na empresa pública A2A, os resíduos orgânicos, como restos de alimentos e poda urbana, são separados na fonte e destinados à produção e comercialização de energia renovável, incluindo biogás, biometano e fertilizante.
O responsável técnico da unidade da A2A em Pavia, Marco Boldrini, foi um dos criadores do biocubo, um sistema que faz a estabilização do lixo residual não reciclável por meio da redução de umidade, separando a matéria orgânica, e preparando o restante para ser incinerado. Segundo Boldrini, o projeto surgiu da necessidade de dar resposta a uma crise regional.
“O biocubo nasceu em um momento de emergência. Já não era possível continuar usando aterros. Tivemos que pensar em uma solução imediata e eficiente. Essa criatividade, tipicamente italiana, pode inspirar o Brasil na busca por alternativas sustentáveis”, afirmou.
Boldrini também destacou a importância da troca com o Brasil. “Percebemos que a escala e a complexidade brasileira são diferentes. Por isso, essa troca política e técnica é fundamental. Podemos aprender muito uns com os outros”, destacou o responsável técnico da A2A.
Ao final das visitas, o secretário Eduardo Tavares reforçou o compromisso do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional em estruturar soluções viáveis para os municípios brasileiros.
“Políticas como o Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura Regional Sustentável (FDIRS), voltadas à modelagem de concessões e parcerias público-privadas, podem ser um grande diferencial. Contribuem para transformar essa agenda, que é tão urgente e importante para o país, em projetos estruturados, com viabilidade técnica, jurídica e econômica”, concluiu.
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Fonte: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional