Aliar o saber ancestral à inovação tecnológica tem se mostrado vital para impulsionar a sustentabilidade dentro das aldeias acreanas. Com o propósito de estreitar laços com os produtores locais e reduzir desigualdades históricas, a Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri) vem fortalecendo parcerias estratégicas, especialmente com comunidades indígenas e ribeirinhas, guardiãs da produção de base e da identidade cultural da região.
A logística para atender essas regiões tem sido um dos principais desafios. Ainda assim, o governo tem estruturado um cronograma de ações e construído pontes importantes para garantir presença contínua na capacitação e valorização daquilo que já é produzido nessas terras, assim fortalecendo os saberes locais e impulsionando o protagonismo das comunidades.
Sabá Manchineri, cacique da Aldeia Twatwa, localizada na terra indígena Mamoadate, em Sena Madureira, é uma das principais referências na implantação do Sistema Agroflorestal (SAF), modelo que integra o cultivo de árvores e arbustos com plantações diversas, voltadas tanto para o consumo das comunidades quanto para a comercialização sustentável.
A diversidade de cultivos permite um aproveitamento mais eficiente dos recursos naturais, como solo, água e luz, promovendo equilíbrio ecológico. Em todas as etapas do processo, as comunidades são diretamente envolvidas, desde a produção das mudas até a comercialização dos produtos, gerando renda e fortalecendo a preservação do território e da cultura local.
“Nós plantamos diversidade, como castanha, cupuaçu, seringa, bacaba, açaí, macaxeira. O Estado forneceu as mudas, tivemos caminhões de mudas e também distribuímos para outras aldeias, é provável que em cada aldeia dessa tenha castanheira plantada dessa atividade que ocorreu há uns 15 anos. De lá pra cá, nós tivemos muitas atividades, mas temos alguns desafios”, explica.
Diminuindo a distância
É justamente diante desses desafios que o Estado tem atuado, levando até as comunidades equipes técnicas para oferecer capacitação e orientação sobre cultivos específicos. O povo manchineri tem apostado no café e no cacau como potenciais fontes de renda e fortalecimento cultural. Por isso, diversas oficinas já foram realizadas, incluindo ações voltadas às cadeias produtivas que estão em fase de implantação.
“Vamos inserir o cacau e a criação de abelha, esse é o sistema de SAF que estamos trabalhando aqui. Na questão da abelha, tivemos uma capacitação feita pela Seagri para 12 participantes manchineri que foi um trabalho que fizemos com a Seagri e a nossa associação e que vai poder daqui uns dias implementar uma quantidade maior da criação das abelhas”, disse.
Em agosto do ano passado, a Seagri, com apoio do Programa REM Acre – Fase II, realizou o curso de capacitação em meliponicultura, para os produtores rurais e indígenas interessados na criação de abelhas sem ferrão.
Visando o manejo sustentável das abelhas sem ferrão, a capacitação foi dividida em dois módulos: práticas e teóricas, e durante o curso os meliponicultores trocaram as experiências e saberes sobre as espécies de abelhas sem ferrão, produção de mel e outros produtos, extração e armazenamento, legislação, registro e comercialização, sustentabilidade, conservação e impacto ambiental, entre outros aspectos importantes para uma boa produção.
“O curso possibilitou a integração de produtores e dos povos indígenas, além de demonstrar a importância da criação das abelhas, trazendo o conhecimento para uma boa produção e comercialização dos produtos derivados do mel”, ressaltou Wilker Nazareno, chefe de escritório local da Seagri em Assis Brasil.
Atividades culturais
Além de ocupar um ponto estratégico entre as duas principais aldeias da região, o cacique afirma que a comunidade tem se organizado cada vez melhor para receber visitantes. Embora não realizem festivais indígenas como ocorre em outras localidades, eles mantêm um calendário de celebrações significativas para o povo manchineri.
As principais datas são em abril, julho, setembro e dezembro. Em cada uma delas, a comunidade presta homenagem ao fundador da aldeia, Antônio de Souza, pajé e pai de Sabá, relembrando sua trajetória e refletindo sobre sua contribuição na história e no contexto do descobrimento do Brasil. Nessas ocasiões, também compartilham saberes ancestrais, como a cosmovisão sobre o início do mundo segundo sua etnia.
“No nosso sistema organizacional são esses eventos que a gente trabalha. Por enquanto, a gente tá trabalhando para melhorar a estrutura da aldeia, pensando em fazer um lugar para hospedagem, porque aqui temos frequentemente bastante pessoas, é difícil manter uma semana ou mês que não tenha gente participando, ponto de passagem estratégico, porque fica entre as aldeias. Então, a gente tem que se preparar para receber os amigos, aquelas pessoas que passam por um trabalho no povo manchineri”, finaliza.
Fonte: Governo AC