O Ministério das Mulheres (MMulheres), em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), promoveu a capacitação “Julho das Pretas – Sensibilização para a equipe do Ligue 180”, como parte da programação do mês de valorização, visibilidade e resistência das mulheres negras.
A atividade, realizada na última terça-feira (29), teve como objetivo fortalecer a escuta qualificada das atendentes do Ligue 180, garantindo que elas reconheçam os marcadores de raça, gênero e território no acolhimento de mulheres negras em situação de violência, reforçando o compromisso com um atendimento cada vez mais humanizado e sensível às múltiplas vulnerabilidades vivenciadas por essas mulheres.
O destaque da ação foi a palestra de Luzi Borges Miranda, professora e diretora da Política Nacional para Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro e Matriz Africana (PNPTMAT/MIR), que abordou as diferentes formas de violência de gênero e racismo que atravessam a vida das mulheres negras – estrutural, institucional, cultural, recreativo, ambiental, religioso e obstétrico – e suas consequências para o acesso a direitos e à justiça.
Durante a palestra, Luzi reforçou a importância de desconstruir os estigmas que limitam a representação das mulheres negras apenas a situações de vulnerabilidade. “Mulheres, falem sobre mulheres intelectualizadas, mulheres em outros espaços econômicos. Toda vez que alguém trouxer uma mulher numa situação de vulnerabilidade para vocês, apresentem três mulheres que saíram desse lugar para que essas gerações que estão aí saibam que uma outra narrativa de mulheres negras é possível”, afirmou.
A diretora também destacou a existência de formas específicas de violência, como o racismo obstétrico, que se manifesta em negligências e práticas violentas no atendimento à saúde de mulheres negras; o racismo religioso, que atinge especialmente as mulheres de religiões de matriz africana, cujas práticas e símbolos são frequentemente alvo de ataques por motivos tanto religiosos quanto raciais, além do feminicídio e os altos índices de assassinatos de mulheres negras.
A secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Estelizabel Bezerra de Souza, também participou da atividade e destacou a urgência de um olhar crítico sobre as estruturas que perpetuam desigualdades. “Não podemos permitir que feridas sociais como o racismo e o machismo continuem sendo tecnologias utilizadas para nos oprimir, para nos distanciar do bem-viver”, afirmou. Para ela, compreender o impacto do racismo estrutural é essencial para garantir vidas: “Milhões de brasileiros e brasileiras moram em condições de periferia. Qual é a cor dessa periferia? O Brasil é muito racista e ter compreensão disso pode salvar a vida de uma pessoa”, destacou.
Durante a atividade, foram apresentadas propostas concretas de enfrentamento à violência, com destaque para o fortalecimento das redes de apoio jurídico e psicológico, a ampliação de delegacias especializadas, a promoção de uma educação antirracista nas escolas, além do fortalecimento da representatividade negra em espaços de poder.
A Política Nacional para Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro e de Matriz Africana, instituída pelo Decreto nº 12.278/2024, também representa um avanço importante na consolidação de direitos para essas populações, incluindo a promoção de ações de enfrentamento à violência de gênero e ao racismo.
O evento foi intermediado pelo Ouvidor do MIR, Fábio Brunni, e a coordenadora-geral do Ligue 180, Ellen dos Santos Costa, que ressaltaram a importância da parceria entre os ministérios, por meio da Coordenação-Geral do Ligue 180 (MMulheres) e da Ouvidoria do MIR, reafirmando o compromisso do Governo Federal com a construção de uma política pública antirracista, laica e voltada à proteção integral das mulheres negras, especialmente as de comunidades tradicionais e de terreiro.
O Julho das Mulheres Negras tem como marco o 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e o Dia Nacional de Tereza de Benguela. A programação envolve atividades em todo o país voltadas à valorização da identidade negra e reivindicação por justiça, dignidade e equidade.
Fonte: Ministério das Mulheres