Em Tóquio, nos Jogos de 1964, o Brasil tinha apenas uma mulher em sua delegação. Uma única voz feminina em meio a tantos homens. Aída dos Santos, negra, criada na favela, sem treinador, sem uniforme e sem apoio, não apenas competiu, como fez história, conquistando o melhor resultado de uma atleta brasileira em Jogos Olímpicos em três décadas.
Nesta quarta-feira (27), uma audiência pública na Comissão de Esporte do Senado Federal homenageou a ex-atleta pelos feitos no esporte e pela trajetória marcada por todas as barreiras impostas a uma mulher negra. A secretária Nacional de Excelência Esportiva do Ministério do Esporte, Iziane Marques, participou da sessão e registrou a importância da homenagem.
“Sei a dificuldade de ser uma mulher atleta neste país, imagina há tantos anos. Obrigada por abrir portas para que a gente pudesse trilhar os mesmos caminhos de forma mais fácil. Homenagens são feitas em vida. É importante reconhecer a relevância de quem fez história, e a senhora foi muito importante para o esporte brasileiro”, afirmou.
Aída se tornou a terceira mulher negra a vestir a camisa do Brasil em uma Olimpíada, depois de Melânia Luz, que brilhou em Londres 1948, e Wanda dos Santos, pioneira em Roma 1960.
“Atletismo eu não conhecia, gostava mesmo era de voleibol, mas naquela época negra não jogava voleibol. Eu me lembro das pessoas gritarem da arquibancada: ‘Sai daí, crioula, seu lugar é na cozinha’”, relatou a ex-atleta.
Ela recordou que viajou aos Jogos Olímpicos sem uniforme oficial, competiu sozinha e precisou improvisar roupas e calçados. “Disseram que eu não iria nem aparecer na final. Aquilo me deu força. Usei uma saia e uma blusa emprestadas e, depois, consegui um tênis de corrida para competir. Foi muito sofrimento, mas também uma vitória da persistência. Eu queria mostrar que, mesmo sem condições, poderia representar o Brasil.”
Além das conquistas no atletismo, com medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (1967) e Cali (1971), Aída dos Santos se dedicou à carreira acadêmica. Formou-se em Geografia, Pedagogia e Educação Física e atuou como professora universitária, formando atletas e educadores.
Voto de louvor
A senadora Leila Barros, autora do requerimento aprovado para a concessão do voto de louvor à atleta, destacou que a história de Aída dos Santos foi marcada pela resistência.
“Aída venceu barreiras sociais, econômicas e raciais. Sua conquista em Tóquio foi extraordinária, pois competiu sem estrutura e, mesmo assim, alcançou um feito histórico. Sua vida nos mostra a força da resiliência, do talento e da coragem”, afirmou a senadora.
Durante a reunião, Aída dos Santos, que também é mãe de Valeska dos Santos (Valeskinha), medalhista olímpica em Pequim 2008, com a equipe de vôlei feminino, recebeu uma placa de homenagem que ressaltou seu legado: “Referência de excelência e superação, inspirando o desenvolvimento do esporte no Brasil e as lutas pela igualdade racial e de gênero”.
A audiência pública contou ainda com a participação da representante do Ministério das Mulheres, Lucimara Cardozo, e do presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Wlamir Motta Campos.
Assessoria de Comunicação – Ministério do Esporte
Fonte: Ministério do Esporte