No Rio, seminário internacional debate métricas do tempo do cuidado para fundamentar políticas públicas

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O tempo do cuidado não é o mesmo tempo do relógio. É um recurso vital, tão crucial quanto a renda e os bens materiais, mas que permanece invisível nas estatísticas tradicionais. Para debater como mensurar e valorizar esse trabalho essencial, o seminário internacional “Contando as horas e medindo os cuidados: metodologias e aplicações das pesquisas de uso do tempo” reuniu, nesta quarta-feira (24.9), especialistas e gestores públicos no Rio de Janeiro. O evento, que segue até quinta (25.9), busca tornar visível o trabalho de cuidados não remunerado, que recai majoritariamente sobre as mulheres, e fundamentar a criação de políticas públicas eficazes por meio do Plano e da Política Nacional de Cuidados.

As pesquisas de uso do tempo são fundamentais no combate à desigualdade de gênero. Elas tornam visível o trabalho de cuidado não remunerado, tradicionalmente ignorado pelas estatísticas, e geram evidências concretas para políticas públicas. Assim, o encontro busca ampliar a cooperação regional, engajar os pesquisadores e conscientizar gestores públicos sobre o valor estratégico dessas informações.

O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcio Pochmann, ressaltou o apoio do Governo do Brasil e a importância do debate. “É um motivo de alegria poder recepcionar a todos nesse debate que será certamente um marco dentro da instituição, nessa nova etapa que nós estamos, para revelar melhor a realidade brasileira e com isso subsidiar as políticas públicas tão necessárias no Brasil”, afirmou.

A secretária Nacional da Política de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Laís Abramo, destacou a urgência do tema. “Nós sabemos que a maior parte do trabalho de cuidado não remunerado é feito pelas mulheres dentro das suas casas, sem reconhecimento, e isso provoca o que a gente chama de uma pobreza de tempo”. 

A secretária explicou ainda que a alta carga de trabalho doméstico impede muitas mulheres de completarem suas trajetórias educacionais, de ingressarem e permanecerem no mercado de trabalho e até de cuidarem da própria saúde.

Laís Abramo enfatizou a importância do seminário, fruto de uma parceria com o IBGE. “Esse seminário é resultado de um trabalho que a gente vem fazendo desde o começo do processo de construção da política”, lembrou. “O IBGE participou do grupo de trabalho interministerial que construiu a proposta da política e do plano, especialmente pela necessidade de ter uma pesquisa sobre o uso do tempo no Brasil”, completou.

“Ter uma pesquisa que mostra com precisão o número de horas que as mulheres dedicam aos cuidados, considerando recortes racial, territorial e etário, é chave para construirmos uma política mais precisa”, completou a secretária do MDS.

Para a diretora de Economia do Cuidado do MDS, Luana Simões Pinheiro, o aprimoramento na coleta de informações é fundamental. “Para a gente poder fazer boas políticas, a gente precisa de boas evidências”, analisou. 

A diretora reforçou a necessidade de transformar os dados produzidos pelo IBGE em informações que façam sentido para a política, permitindo o monitoramento e a correção de rumos durante a implementação. “A parceria com o IBGE tem décadas de história. Esse compromisso de longa data da instituição em transformar o dia a dia do país em dados estatísticos é essencial para criarmos políticas públicas que de fato atendam às necessidades nacionais”, destacou.

Troca de experiências 

Para Luana Simões, a participação no seminário também é uma oportunidade de troca de experiências com outros países que já construíram políticas de cuidados e avançaram na implementação de pesquisas sobre o uso do tempo. “Isso é crucial, pois demonstra que não precisamos começar do zero. Temos muito a aprender com as experiências já consolidadas ao nosso redor”, completou.

A especialista argentina da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Valéria Esquivel, que trabalha em Genebra, destacou o potencial das políticas de cuidado. “É nesse contexto que as políticas de cuidado, especialmente os serviços de cuidado, mostram seu potencial para gerar empregos de qualidade, sobretudo para as mulheres”, explicou. 

Valéria, que já visitou o Brasil a convite do IBGE em 2007 e 2013, demonstrou satisfação em acompanhar os avanços do tema na América Latina e, em especial, no Brasil. “A aprovação do Sistema Nacional de Cuidados em dezembro do ano passado são passos fundamentais que nos aproximam de uma maior equidade e ajudam a transformar a desigualdade de gênero”.

Seminário

Ao longo de dois dias de evento, serão realizadas seis mesas de debate, além da apresentação de estudos e publicações e a entrega de um texto que aborda a agenda de uso do tempo no Brasil, resultado da parceria entre SNCF/MDS, IBGE e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A mesa de abertura do evento contou também com a presença do subsecretário de Programas Sociais, Áreas Transversais e Multissetoriais e Participação Social do Ministério do Planejamento, Danyel Iório de Lima; e da especialista Sênior de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Laísa Rachter; e da diretora do MADE/USP, Luiza Nassif.

Assessoria de Comunicação – MDS 

 

 

 

Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome