Oficina Nacional debate intersecções entre saúde mental, cultura e economia solidária em Brasília

Cultura

Gestores públicos, especialistas, trabalhadores da cultura, empreendimentos econômicos solidários, profissionais de áreas diversas da saúde e usuários da Rede de Atenção Psicossocial. Esse é o público que está reunido, em Brasília, na Oficina Nacional de Saúde Mental, Arte, Cultura, Memória e Economia Solidária, promovida pelos ministérios da Cultura (MinC), Saúde (MS) e Trabalho e Emprego (MTE), com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A atividade começou nesta terça-feira (2) e será concluída na quarta (3), com o encaminhamento de propostas para fortalecer políticas públicas intersetoriais e a consolidação de uma Rede Nacional de Saúde Mental, Cultura e Economia Solidária.

Na abertura, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg, defendeu a interseção entre essas pautas e relembrou o histórico da parceria entre cultura e saúde, citando, por exemplo, a Oficina Loucos pela Diversidade realizada em 2007 e os editais de premiação. Também falou sobre a importância da Política Nacional de Cultura Viva, por meio da atuação dos grupos e entidades culturais, no campo da saúde.

“Nesse trabalho integrado, faremos uma pesquisa para que os Pontos de Cultura se reconheçam como promotores de saúde mental e a cultura como um determinante da saúde. A gente está reforçando isso. Hoje, temos quase oito mil Pontos de Cultura certificados e um recurso vinculado na Política Nacional Aldir Blanc. Então, estamos começando a ter a Cultura Viva do tamanho do Brasil e ser uma política de acesso universal”, explicou.

Segundo o diretor do Departamento de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Marcelo Kimati Dias, o objetivo da Oficina é estruturar políticas públicas a partir desse reencontro entre instituições e pessoas que atuam nessas áreas. “A gente vai estruturar o início de uma política de Estado de economia solidária e saúde mental, dentro de um processo no qual a gente tem uma participação de vários ministérios e a participação de movimentos que acompanham esse procedimento como um todo”, destacou.

Já Sérgio Godoy, diretor do Departamento de Projetos do Ministério do Trabalho e Emprego, ressaltou o caráter histórico da iniciativa. “A gente está construindo uma intersecção entre o Estado brasileiro para o fomento a um modo de vida diferente, saudável e que acolha as pessoas, promova diversidade, democracia e que a geração de renda seja também o exercício de solidariedade e participação social”, concluiu.

A Oficina de Saúde Mental, Arte, Cultura, Memória e Economia Solidária conta com três eixos norteadores das discussões. O primeiro é o Inclusão Social pelo Trabalho, focado no histórico do movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil e a confluência com a economia solidária. Em seguida, o eixo Desinstitucionalização da Loucura na Experiência com a Arte aborda o papel da cultura para transformar a relação da sociedade com o tema da saúde mental. Por fim, o terceiro eixo Estratégias de Qualificação em Arte, Cultura, Memória e Economia Solidária comunica estratégias de qualificação, profissionalização e organização dos empreendimentos que surgem em oficinas de geração de trabalho e renda nos serviços da Rede de Atenção Psicossocial.

Experiências

O evento também possibilitou a apresentação de experiências bem-sucedidas nas áreas de cultura, saúde mental e economia solidária. Uma delas foi a do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Criado pela psiquiatra Nise da Silveira, em 1952, para ser um centro de estudo e pesquisa, o espaço guarda, organiza e conserva as obras produzidas nos ateliês terapêuticos.

“A cultura é abrangente, envolve todos os seres humanos, perpassa a nossa existência. É um sentido amplo de possibilidades, de criação, de existência humana e tem tudo a ver com saúde. Eu, por exemplo, trabalhei 50 anos no Museu de Imagens do Inconsciente, posso dizer com certeza que no museu, além de se fazer um trabalho terapêutico de assistência à saúde mental, sempre foi perpassado pela cultura, pela arte. Então, são indissociáveis e essa intersecção é fundamental”, pontuou Gladys Schincariol, representante do
Museu de Imagens do Inconsciente.

Outra iniciativa de destaque foi a da Associação de Familiares, Amigos e Usuários do Serviço de Saúde Mental do Município de Blumenau (SC) – Enloucrescer. Em articulação com os Centros de Atenção Psicossocial da cidade, a entidade promove aos usuários e familiares desse serviço oficinas de artesanato, cerâmica, teatro e rádio.

“Nas oficinas, eles pensam no produto, produzem, organizam as feiras e fazem a venda. Depois, é feita a distribuição da renda. Eles se sentem incluídos, felizes, participantes, atores da sua própria história”, explicou a terapeuta ocupacional Ana Carolina Rabelo. A presidente da Associação, Iracema Rodrigues Bezerra da Silva, que também é usuária do CAPS II de Blumenau, conta como é ser parte dessa iniciativa. “Eu participo das oficinas de bordados e da oficina de cerâmica. Já participei também do teatro. Então, para mim é maravilhoso, porque eu tenho aquele compromisso. A Enloucrecer representa a metade do meu tratamento”.

Fonte: Ministério da Cultura