Palmares, Cultura e Comunicações lançam programa digital em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia

Cultura

Em um dia marcado por memória, luta e reafirmação de direitos, a Fundação Cultural Palmares, o Ministério da Cultura, o Ministério das Comunicações e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) participaram do Tributo a Mãe Bernadete – 73 anos de luta e resistência, realizado na Comunidade Quilombola de Pitanga de Palmares (Caipora), em Simões Filho, Bahia.

O evento deu continuidade às homenagens iniciadas no ano passado, quando a ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve no quilombo para reverenciar a trajetória de Mãe Bernadete e reafirmar o compromisso do Governo Federal com a luta quilombola.

Nesta edição, além da homenagem simbólica, a celebração foi marcada pela entrega de notebooks e a instalação de uma antena Gesac à comunidade, ação realizada pelo programa Computadores para a Inclusão, do Ministério das Comunicações, em parceria com a Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura. A iniciativa permitirá a criação de um laboratório de informática em Pitanga dos Palmares, fortalecendo o acesso à educação, à conectividade e às oportunidades para jovens e adultos quilombolas.

Durante a cerimônia, o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, destacou a importância de transformar o luto em luta, renovando o compromisso histórico da Fundação com os quilombolas, os terreiros e as comunidades tradicionais afro-brasileiras. Ele enfatizou que a luta quilombola é pela posse da terra, pela liberdade religiosa e pela garantia de vida digna para as juventudes negras. Em seu discurso, reforçou que a morte precoce de jovens negros e a intolerância religiosa não podem ser naturalizadas, ressaltando a urgência de novos caminhos.

Na ocasião, a Fundação Palmares, o Ministério da Cultura e o Ministério das Comunicações anunciaram o início de um novo programa de inclusão digital, com a entrega de computadores e kits de conectividade para quilombos e terreiros.

Programa “Computadores para a Inclusão” 

Como parte das ações concretas, oito notebooks e uma antena Gesac foram doados à comunidade de Pitanga dos Palmares, fortalecendo a inclusão digital em um dos mais emblemáticos territórios quilombolas do Brasil.  

“Estamos aqui para honrar esse legado com ações concretas. A entrega dos computadores e da antena representa conectividade, liberdade, empoderamento e fortalecimento da autonomia quilombola”, afirmou o secretário de Telecomunicações, Hermano Tercius, durante a cerimônia.

Ludymilla Chagas, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério das Comunicações, reforçou que levar inclusão digital a territórios tradicionais como Pitanga dos Palmares é um compromisso de transformação: “Trazer a inclusão digital para um território tradicional como esse é selar o compromisso de fazer da conectividade um instrumento de avanço e não mais um problema.”

A emoção marcou também a fala de Jurandir Pacífico dos Santos, filho de Mãe Bernadete, que celebrou a chegada da tecnologia como um marco para a comunidade: “O local onde minha mãe foi executada foi escolhido para ser o polo de informática. Os computadores e a internet que ganhamos serão de suma importância para o desenvolvimento da comunidade. Não tínhamos esse acesso. É uma bênção de Deus esses computadores.”

O Computadores para a Inclusão é uma política pública do Ministério das Comunicações que recondiciona equipamentos usados em Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs) espalhados pelo país. Após revitalizados, esses equipamentos são destinados a escolas públicas, associações, aldeias indígenas, áreas rurais, favelas, terreiros e territórios quilombolas, como Pitanga dos Palmares. Além de promover a inclusão digital, o programa também capacita jovens e adultos em cursos de informática e adota práticas de sustentabilidade ambiental no descarte de resíduos eletrônicos.

Tributo que se transforma em futuro

A homenagem a Mãe Bernadete é uma ação coletiva à memória e à ação. A presença da Fundação Cultural Palmares, da CONAQ, do Ministério da Cultura e do Ministério das Comunicações é um pacto política e social que visa transformar o luto em luta viva, conectada e enraizada na ancestralidade.

Saiba mais quem foi Mãe Bernadete

Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi uma das principais lideranças quilombolas do Brasil e uma defensora incansável dos direitos humanos. Coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), dedicou sua vida à luta pela titulação das terras quilombolas, à preservação da cultura afro-brasileira e à proteção das comunidades tradicionais contra a violência e a intolerância religiosa.

No dia 17 de agosto de 2023, aos 72 anos, Mãe Bernadete foi brutalmente assassinada em sua própria casa, em um crime que chocou o país e expôs a vulnerabilidade das lideranças quilombolas no Brasil. Mesmo estando inserida no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, foi alvejada com 22 tiros, em um caso que ainda aguarda plena elucidação.

Sua morte provocou forte comoção nacional e internacional, reafirmando a urgência da proteção aos defensores de direitos e dos territórios tradicionais. Mãe Bernadete permanece como símbolo de resistência, coragem e esperança, inspirando a continuidade da luta por justiça, igualdade e respeito aos povos tradicionais do Brasil.

Fonte: Ministério da Cultura