Um ônibus com 18 presas da Penitenciária Feminina de Rio Branco partiu da capital por volta das 6h30 desta quinta-feira, 17, com destino à Sena Madureira, levando um único propósito: mães que desejavam abraçar os filhos que não viam há meses e até há anos.
Foram mais de 140 km percorridos com o anseio de aliviarem um pouco a saudade e também para fortalecer vínculos familiares que ajudam no processo de ressocialização.
Esse é o Projeto Olhares que acolhem, do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), que surgiu a partir de pedidos das próprias mães, que por diversas questões, dentre elas a distância, não recebem visita dos filhos, a maioria deles, menores de idade.
“Estou presa há cinco anos, e há exatamente cinco anos não via meus filhos. Hoje eu pude matar um pouco dessa saudade de dois deles e ter a certeza de que o lugar que eu mais quero estar nessa vida é ao lado deles. Não vejo a hora de poder ganhar minha liberdade para poder abraçar todos os dias quem eu amo”, disse, emocionada, a presa J.F.N., de 32 anos, uma das idealizadoras do pedido.
Proporcionar o encontro entre eles, fora do ambiente carcerário, ainda que por duas horas, tem um significado muito importante, segundo o presidente do Iapen, Marcos Frank, que acompanhou de perto o reencontro.

“Não é simples colocar na prática uma ação como essa, que envolve várias instituições e que requer uma logística grande para que ela possa acontecer, desde o grupo de escolta na estrada até a cessão do espaço pelo juiz da Comarca de Sena Madureira. Mas o resultado disso tudo é recompensador”, enfatizou.
Rever os dois filhos, um menino de 9 e uma menina de 6 anos, foi o combustível para o desejo de voltar para casa e retomar uma rotina distante dos conflitos com a lei, segundo a J.S.P., de 28 anos. Feliz com o momento de afeto proporcionado pelo projeto, ela disse que não esperava revê-los esta semana.
“Meus filhos estão crescendo longe de mim, isso me deixa com o coração partido. A mais nova, de 6 anos, é criada pela minha mãe desde bebê. Mas se Deus quiser no próximo ano estarei com eles aqui em Sena e nunca mais vou fazer nada que me afaste deles de novo”, enfatizou.
O que a legislação prevê
A Lei nº 14.326/2022 garante à mulher presa gestante ou puérpera um tratamento humanitário antes e durante o trabalho de parto e no período de puerpério. No entanto, projetos sociais como Olhares que acolhem são essenciais para a continuidade do atendimento humanizado às presas com filhos em idades mais avançadas.
Presente no ato, o desembargador do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), Francisco Djalma, que preside a Câmara Criminal e é supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, disse que uma das metas do Judiciário é tornar o sistema prisional mais humanizado.
“Quando o Iapen entrou em contato conosco para falar sobre esse projeto, de pronto decidimos apoiá-lo, pois a Lei de Execução Penal já prevê essa possibilidade, de o preso cumprir a pena próximo da família para que ele possa passar por esse processo de aprisionamento da forma mais humana possível, mantendo um elo familiar”, destacou.
Projeto deve ser expandido a outros municípios
Em uma sala climatizada na Comarca de Sena Madureira, as presas puderam reviver o amor dos filhos e também de outros familiares, como irmãos, mães e maridos que foram indicados por elas próprias para estarem presentes nesse reencontro. O projeto já surgiu com a possibilidade de ser expandido para outros municípios do interior do estado, segundo informou a diretora da Unidade Feminina de Rio Branco, Jamilia Silva.
“A nossa equipe de assistência social tem realizado esse levantamento para identificar mães presas que desejam reencontrar seus filhos e iremos realizá-lo dentro das possibilidades. Hoje conseguimos trazer mulheres que estão presas em Rio Branco e que são de Sena Madureira e Manoel Urbano. Assim pudemos contemplar treze famílias de Sena e cinco de Manoel Urbano com esse momento cercado de carinho”, completou.