Reunião Ampliada da Salvaguarda do Jongo no Sudeste reúne comunidades jongueiras no Rio de Janeiro

Cultura

“Macumba não é feitiçaria. O Jongo era visto assim, e hoje não. Encontramos pessoas de outras religiões que estão se juntando e entendendo que a nossa mensagem é a mesma deles. Deus é um só, mas ele tem vários nomes, o nosso é Olorum”, disse a mestra Noinha, de 81 anos, do grupo Congola, de Campos do Goytacazes (RJ), em um discurso emocionante durante a Reunião Ampliada de Salvaguarda do Jongo no Sudeste, que aconteceu entre os dias 19 e 21 de setembro, no Rio de Janeiro. O evento, reservado às comunidades jongueiras, contou com a participação de 132 representantes e lideranças das comunidades detentoras do Jongo situadas nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo.

Foto: Oscar Liberal/Iphan
Foto: Oscar Liberal/Iphan

“Isso é a valorização do nosso trabalho de tantos anos, trabalho dos nossos ancestrais. Jongo é vida, é família, é amor, é de geração em geração”, disse o Mestre Nico, jongueiro do Caxambu Sebastiana II, de Santo Antônio de Pádua (RJ). 

A Reunião Ampliada de Salvaguarda do Jongo no Sudeste foi realizada através de emenda parlamentar do Gabinete do deputado Pastor Henrique Vieira e visou promover e preservar o patrimônio cultural brasileiro de forma sustentável e com participação social. Além disso, o evento também contou com o apoio do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), local de abertura do evento, e da Fundação Cultural Palmares (FCP), responsável pela administração do espaço Armazém Docas André Rebouças, no qual foram realizadas as discussões e oficinas.

Durante o evento, Iphan e comunidades jongueiras avaliaram os impactos das políticas públicas desenvolvidas durante os vinte anos de registro do Jongo no Sudeste. Os participantes discutiram os desafios e avanços da gestão compartilhada, detalhando as ações e os planos concretos implementados para a preservação da tradição jongueira. Além das discussões, foram distribuídos exemplares do recente Plano de Salvaguarda do Jongo no Rio de Janeiro, material esse que desponta como importante referencial para a elaboração dos Planos de                                                                                                                   Salvaguarda do Jongo para os demais estados citados.

O plano de salvaguarda do Iphan é um instrumento de gestão compartilhada que estabelece um acordo social entre detentores de um bem cultural imaterial, o próprio Instituto e outros parceiros, visando a preservação, valorização e sustentabilidade desse patrimônio. Este plano define ações concretas para garantir a viabilidade do bem cultural, promovendo sua transmissão, difusão e revitalização, e sendo um compromisso institucional do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).

Presente na reunião, a Mestra Cicinha, jongueira do Caxambu de Recreio, em Minas Gerais, destacou que a salvaguarda do Jongo é importante para a criação de políticas públicas para proteção do bem cultural. “O Jongo deve estar nas escolas para firmar nossa presença”, disse.

O Mestre Paulo Rogério, jongueiro do Caxambu de Miracema (RJ), ressaltou que os detentores sempre devem estar dialogando com o poder público. “É fazer com que as pessoas nos respeitem e valorizem e nos dê um pouco mais de atenção. Devemos mostrar quem somos, por que viemos e o que fazemos”, disse.

Atividade de uma das oficinas com as comunidades jongueiras. Foto: Oscar Liberal/Iphan
Atividade de uma das oficinas com as comunidades jongueiras. Foto: Oscar Liberal/Iphan

Para o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial, Deyvesson Gusmão, a Reunião Ampliada do Jongo no Sudeste é um espaço de protagonismo comunitário. “As comunidades detentoras não apenas contribuem, mas participam ativamente da construção do caminhos e das prioridades da política pública, assegurando que a salvaguarda do Jongo seja, sobretudo, um processo coletivo, democrático e construído com base na tradição jongueira”, disse.

Jongo do Sudeste

O Jongo é um elemento de resistência cultural para diversas comunidades e foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2005 pelo Iphan. O registro teve como base a pesquisa para o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), desenvolvido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan).

Também conhecido como tambu, batuque e caxambu, o jongo é uma forma de expressão que mescla percussão de tambores e dança coletiva. Com suas raízes nos saberes e crenças dos povos de língua bantu, o jongo é cantado e tocado de diversas formas e consolidou-se entre os povos escravizados que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar e café localizadas no Sudeste do Brasil.

Fonte: Ministério da Cultura