O segundo dia do 78º Festival de Cannes foi marcado por um diálogo internacional em torno da equidade de gênero no setor audiovisual. Na manhã desta quarta-feira (14), o painel Brasil e França: Mulheres Ocupando Espaços de Liderança, com a presença de Joelma Gonzaga, secretária do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura (MinC), ao lado de Leslie Thomas, secretária-geral do Centre National du Cinéma (CNC); Clémentine Charlemaine, delegada geral do coletivo francês 50/50; Tamiris Hilario, especialista técnica de audiovisual da ONU Mulheres; e Karen Hayashi, gestora de projetos da ApexBrasil, deu continuidade à programação do evento.
Durante a conversa, Joelma Gonzaga celebrou a realização do painel como uma das primeiras ações do Brasil no Festival de Cannes deste ano. “Estamos entusiasmados com a Temporada Brasil-França e com o Brasil como país homenageado no Marché du Film 2025. É um momento histórico para o nosso audiovisual, com uma presença forte de filmes brasileiros na programação”, afirmou. Ela citou títulos como O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, o Para Vigo Me Voy, que homenageia o cineasta Cacá Diegues, e o curta Samba Infinito, de Leonardo Martinelli, selecionado para a Semana da Crítica.
Ao compartilhar sua trajetória como mulher no audiovisual, Joelma trouxe um relato pessoal sobre os desafios e aprendizados na ocupação de espaços majoritariamente masculinos. “Eu chego ao cargo de produtora executiva contando com o apoio de muitas mulheres. Em todas as produções que realizei, batalhei por paridade de gênero nas equipes. E quando consegui, percebi o quanto isso transformava os processos, os ambientes e a saúde das produções”, relatou.
Na atuação na gestão pública, desde 2023, a secretária tem como princípio refletir institucionalmente as ações que já vinha desenvolvendo como produtora executiva. “Nosso objetivo é garantir que as mulheres estejam em todas as funções e camadas do ecossistema audiovisual. Para isso, restauramos os colegiados de participação social na Secretaria do Audiovisual, priorizando a paridade e a diversidade em suas composições”, explicou.
Tamiris Hilario, por sua vez, pontuou a importância da presença feminina no evento. “É a primeira vez que uma mulher marca presença em Cannes em nome da ONU Mulheres, e isso é fruto de um trabalho coletivo por mais mulheres no setor. Esse ano é simbólico também pelos 30 anos da Plataforma de Ação de Pequim, marco global para o empoderamento de mulheres e meninas”, destacou. Ela enfatizou que, apesar de avanços, nenhum país do mundo ainda cumpre plenamente os indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5, que trata da igualdade de gênero.
Ela também apresentou dados preliminares de uma pesquisa desenvolvida em parceria com o Instituto +Mulheres, que investigou a presença feminina em cargos de liderança em quatro grandes produtoras brasileiras. “Os números mostram o que já sabíamos: as mulheres não estão em posição de liderança em proporção compatível com sua presença na população. ”Representando a ApexBrasil, Karen Hayashi destacou que promover a internacionalização do audiovisual brasileiro também significa ampliar os espaços de representação dentro e fora das telas. “A gente entende que diversidade é um ativo estratégico. Quando investimos no protagonismo de mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ no audiovisual, estamos fortalecendo a imagem do Brasil como um país plural, criativo e competitivo. A presença dessas vozes é fundamental para que nossas narrativas ganhem o mundo com autenticidade e potência”, afirmou.
Ceará em Cannes
Ainda durante esta manhã, o Brasil se destacou ainda mais em Cannes, com a exibição de quatro curtas-metragens do projeto Directors’ Factory Ceará Brasil, que abriu a Quinzena de Cineastas. Com a participação do cineasta cearense Karim Aïnouz como padrinho, os curtas foram realizados em Fortaleza e são resultados de parcerias internacionais que conectam o norte e nordeste do Brasil com Cuba, Portugal, França e Israel. As obras, que destacam jovens duplas de realizadores, foram realizadas com o apoio do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura do Ceará, e visam fortalecer a formação profissional e a internacionalização da produção audiovisual da região.
Os filmes exibidos foram:
- A Fera do Mangue, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel),
- A Vaqueira, a Dançarina e o Porco, de Stella Carneiro (Alagoas) e Ary Zara (Portugal),
- Ponto Cego, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba),
- Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França).
A produção dos curtas envolveu diretamente mais de 100 profissionais cearenses e reafirma a relevância do Ceará no cenário internacional de cinema.
Fonte: Ministério da Cultura