“Trabalhar com o turismo vale muito a pena. Aqui não pára de chegar gente, do Rio de Janeiro, de São Paulo, da equipe da gravação do filme Geni e o Zepelim. As pessoas que têm saído daqui têm voltado e com mais gente”. A fala é de Jonathan Fernandes, filho e sócio de Cíntia Flores, proprietária da Pousada Canto e Encanto Janaína, localizada às margens do Rio Croa, em Cruzeiro do Sul.
Neste 8 de maio, Dia Nacional do Turismo, o depoimento de Jonathan representa um número significativo de pessoas que atuam no setor e fazem parte do chamado trade turístico no Acre. Em celebração à data, esta é a primeira de uma série de reportagens do governo do Acre, por meio da Secretaria de Turismo e Empreendedorismo (Sete), que irão retratar o desenvolvimento do turismo de base comunitária (TBC) no estado, e as contribuições do conceito para a manutenção da floresta em pé.
Entre os destinos acreanos em ascensão, há dois frequentemente reconhecidos por estudiosos e entusiastas do turismo: o Rio Croa, em Cruzeiro do Sul, e a Serra do Moa, no Parque Nacional da Serra do Divisor, em Mâncio Lima. Em ambos os locais, o TBC desempenha um papel importante, e o governo do Acre, por meio Sete, impulsiona o segmento com apoio de diversos parceiros, entre eles, o Programa REDD+ Early Movers (REM) – Fase II.
A tendência, segundo aponta o secretário de Turismo e Empreendedorismo, Marcelo Messias, é de que um número maior de pessoas passem a investir no segmento e a integrar o trade turístico acreano. “O estado do Acre é riquíssimo. As oportunidades são muitas. E o turismo de base comunitária é importante pra manter a floresta em pé, ao mesmo tempo que gera oportunidade de emprego e renda para as pessoas que vivem ali. Então, o nosso papel como secretaria é apoiar, incentivar, mostrar os caminhos, por meio do turismo, que tragam renda para as famílias e ajudem a manter a floresta em pé”, destaca.
Na Serra do Divisor, Agemiro Magalhães, o Miro, é referência quando se trata de turismo de base comunitária. Ele conta que nasceu e cresceu na região e está há 35 anos na margem direita de quem desce o Moa, onde há 21 trabalha com turismo. “Eu comecei a receber os pesquisadores que vinham fazer pesquisa quando foi criado o parque, daí fui desenvolvendo a pousada, porque precisava ter mais um espaço pras pessoas ficarem. E acabou que eu fui fazendo a primeira pousadinha cobertinha de palha. E daí começou o meu trabalho”, lembra.
Figura conhecida na Serra do Divisor, Miro foi chefe e inspiração para Eva Maria Luz da Silva, proprietária da Pousada Caminho das Cachoeiras, em atividade há cerca de quatro anos. Para ela, ter o próprio negócio foi a realização de um sonho. “Nasci e me criei aqui, construí família e hoje ainda moro aqui. Todo ser humano tem o sonho de ter o seu próprio negócio e, graças a Deus, consegui chegar aonde estou hoje. É uma profissão de que eu sempre gostei, de preparar comida. Eu amo esse trabalho. Por isso, hoje eu me sinto muito bem, realizada em trabalhar com comida e trocar ideias, conhecer pessoas diferentes. Para mim, é maravilhoso”, conta.
Ali próximo, na Pousada Canindé da Serra, Antônia Gracilândia Coelho de Lima, mais conhecida como “dona Graça”, é uma das anfitriãs conhecidas de quem visita a Serra. Na semana passada, foi ela quem cuidou de todos os detalhes para a recepção da equipe técnica e alunos dos cursos de Primeiros Socorros e de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos, oferecidos pela Sete e parceiros.
Dona Graça e outras duas cozinheiras foram as responsáveis pelos pratos que alimentaram todos os participantes dos cursos realizados na pousada. Habituada a receber grupos com grande número de pessoas, Graça destaca: “Não é fácil, mas estamos todas acostumadas a preparar comida em grande quantidade. Graças a Deus, tudo acontece da melhor forma”.
Turismo para manutenção do homem e da floresta
Na floresta, subsistência é uma palavra significativa para os moradores, inclusive para Edmilson Cavalcante, guia turístico no Parque Nacional da Serra do Divisor, para quem o turismo contribui como fonte de renda para as famílias que vivem na região. “Isso a gente vê no dia a dia. As coisas estão melhorando cada vez mais”, diz.
“O turismo aqui é a fonte de subsistência. Antes as dificuldades eram muito maiores. Hoje, com o turismo, evoluiu muito, as famílias tiram boa parte do sustento do turismo, porque tudo o que a gente produz no parque, a banana, a melancia, a farinha, a goma pra fazer tapioca, a gente vende para as pousadas, para alimentação dos turistas. É uma fonte de renda. E uns ganham guiando, as pousadas ganham hospedando, os barqueiros também ganham, e forma uma rede de pessoas trabalhando, porque o turismo não é só um que faz, são vários”, enfatiza, descrevendo o conceito de trade.
O Parque da Serra do Divisor é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e responsável pela autorização de projetos de impacto, como a construção do Mirante da Serra.
Ali, as possibilidades são muitas para o turismo, desde a observação de aves, ao trekking, que é uma caminhada em maior contato com a natureza, até as aventuras da subida para o Mirante da Serra. Com diversas cachoeiras, histórias de busca por petróleo e aparições registradas pelos moradores, o parque é um tesouro de biodiversidade e potencial turístico ecológico na Amazônia.
Para incentivar o desenvolvimento local, o governo do Acre tem investido na promoção do turismo de base comunitária em feiras e eventos nacionais e internacionais do turismo. No 8º Salão do Turismo, realizado no Rio de Janeiro (RJ), no ano passado, por exemplo, as experiências da Serra do Divisor, do Caminho das Aldeias e da Biodiversidade, da Trilha Chico Mendes e do Croa agradaram o público. Além disso, os incentivos continuam com a qualificação de quem atua na área, com cursos oferecidos também para a comunidade do Rio Croa e em Cruzeiro do Sul.
Edmilson destaca que já levou muitas pessoas para o Mirante da Serra do Divisor, e que a experiência é diferente para cada um. “Eu já trouxe pessoas de todo canto do mundo aqui pro Mirante”, relata. “Muitos deles se emocionam. Eu achava aquilo diferente quando via. Mas depois que fui entender que, pra muitos deles, esse contato com a natureza é diferente. Muitos não têm o que a gente tem aqui”, explica.
Nesse sentido, o turismo de base comunitária exemplifica como o modelo pode contribuir para a manutenção da floresta em pé, como no Parque Nacional da Serra do Divisor, criado pelo Decreto nº 97.839, em 16 de junho de 1989, e que conserva o bioma amazônico em uma área que chega a 837.555 hectares, segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan).
A reportagem irá trazer uma viagem pelo Rio Croa, onde vivem moradores com histórias inesquecíveis Acre adentro.
Serviço
Contatos para as pousadas da Serra do Divisor
– Pousada Caminho das Cachoeiras
Contato: 68 99967 5762
Instagram: @pousadacaminhodascachoeiras
– Pousada Canindé da Serra
Contato: 68 99603 8901
Instagram: @pousadacaninde
– Pousada do Miro
Contato: 68 99971 2127
Instagram: @pousadadomiro