UFPI pesquisa células-tronco para tratamento de animais

Educação

A Universidade Federal do Piauí (UFPI), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), conseguiu, com uso de terapia experimental com células-tronco, a regeneração completa do tecido mamário de uma cabra, comprometido por mastite. Essa inflamação pode até matar o animal e causa quase metade dos prejuízos ao setor leiteiro bovino e 30% ao setor leiteiro caprino no país. 

Produzidas pelo próprio corpo dos animais, as células-tronco têm a capacidade de se transformar em diferentes tipos de células e funcionam como um regente do sistema imunológico, auxiliando para que o próprio organismo se recupere de doenças articulares, ósseas, degenerativas e neurológicas. 

Na UFPI, as pesquisas são realizadas no Núcleo Integrado de Morfologia e Pesquisas com Células-Tronco (Nupcelt), sob a coordenação de Napoleão Argôlo. Segundo o professor, o Núcleo é o único do meio-norte do Brasil com a finalidade de isolamento e caracterização de células-tronco mesenquimais de diversos tecidos animais. 

“Aqui, com uso de células-tronco, tivemos a reparação absoluta em glândula mamária na espécie caprina, com a reversão completa de glândulas fibrosadas, que haviam deixado de produzir leite e restabelecida a produção de leite apto ao consumo humano, sendo uma pesquisa muito promissora”, avalia Argôlo. 

“Temos também algumas pesquisas com reparação de tecido renal com comprometimento de função (insuficiência renal), além de pesquisas para recuperação de lesões neurológicas, ambas em animais. As possibilidades de uso das células-tronco mesenquimais são muito promissoras, representando uma chance para animais que sofrem de doenças cujo tratamento com medicamentos já não apresentam a evolução esperada”, acrescenta o professor. 

Com capacidade de produção de até 35 milhões de células-tronco a cada 15 dias, o laboratório avança em pesquisas para validar o uso da terapia celular para regenerar diversos tecidos em animais, como ósseo, cartilaginoso, tecido de gordura, além de algumas doenças associadas à medula óssea e algumas doenças degenerativas. 

Uma característica que favorece o uso dessas células em terapias animais é a ausência de resposta de rejeição do hospedeiro às células implantadas. Isso se deve tanto porque as células-tronco mesenquimais podem bloquear a resposta inflamatória local quanto porque não apresentam proteínas que podem ser reconhecidas como estranhas ao corpo, como a proteína MHC II, por exemplo”, afirma Argôlo. 

Nos últimos anos, o Nupcelt/UFPI ampliou suas atividades de pesquisa para desenvolver estudos de bioengenharia tecidual, utilizando hidrogéis bioativos e biomateriais diversos produzidos a partir da flora regional, associados a células-tronco. Como resultado, patentes foram geradas pelo desenvolvimento de softwares, ferramentas de biossegurança laboratorial, novos biocompostos associados a células, bioprocessos para modelos diversos de co-cultivo e inúmeros artigos publicados que consolidam o Núcleo com um dos mais relevantes do país em pesquisas em células-tronco animais. 

Esses biomateriais são impressos em formas geométricas tridimensionais à base de substâncias biológicas, como goma de caju, buriti e mamona, que podem ser utilizadas como suporte para implantar as células-tronco em alguns órgãos, como rins e ossos, por exemplo.  

A associação entre células-tronco e suportes biológicos impressos atualmente é considerada a vanguarda da pesquisa com reparação de tecidos, sendo destacada nas atividades do Nupcelt/UFPI. 

Terapia em animais O uso de células-tronco para tratamento de animais é autorizado desde 2020 pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). O tratamento da terapia celular com célula-tronco, sobretudo em cães e gatos, vem se tornando mais comum no Brasil, mas esbarra no alto valor cobrado pelos procedimentos. Em clínicas particulares, o custo pode variar entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil por aplicação, dependendo do animal e da doença. 

Por isso, um dos objetivos do núcleo de pesquisa é fazer essa tecnologia chegar à sociedade para alcançar especialmente tutores de baixa renda que não têm condição de arcar com o custo do tratamento para seus pets. 

Atualmente, a UFPI mantém um projeto de extensão que realiza terapia celular com animais abandonados nas ruas e recuperados pela Associação Piauiense de Proteção e Amor aos Animais (Apipa). O projeto selecionou para atendimento 14 cães e seis gatos com complicações diversas, como sequelas de viroses, danos no sistema nervoso, doenças renais crônicas, doenças hepáticas e enfermidades degenerativas. 

Em um dos atendimentos realizados, o gato Tigrão, de oito anos, vítima de atropelamento, apresentou considerável melhora na locomoção, após passar por quatro sessões de aplicação de células-tronco. 

Professor Miguel Cavalcante ao lado do gato Tigrão. Foto: Divulgação/UFPI
Professor Miguel Cavalcante ao lado do gato Tigrão. Foto: Divulgação/UFPI

“O Tigrão tinha muita dificuldade de caminhar, praticamente arrastando as patas no chão. Na primeira dose, ele já estava mais atento, de pé. Ao chegar na quarta dose, ele já estava saltando de mesa em mesa. Isso nos deixou emocionados”, recorda Miguel Cavalcante, subcoordenador do Nupcelt/UFPI e coordenador do projeto. “A célula-tronco é mediadora de reações imunológicas e assim ela ativa todo o sistema imunológico. É capaz até de estimular a produção de novas células do tecido agredido”, completa o pesquisador. 

Do laboratório ao mercadoO desafio agora é levar esta nova terapia celular, referendada pela expertise dos pesquisadores do Nupcelt/UFPI, ao alcance da comunidade, e consequentemente, ao mercado. Para isso, os pesquisadores do Núcleo fundaram a startup NewHope BIOtech para buscar editais de financiamento a empresas que viabilizem as pesquisas e favoreçam a transposição da tecnologia para a população local. 

A produção das células-tronco do Nupcelt/UFPI também visa subsidiar pesquisas de outras universidades e órgãos privados, distribuindo essas células a grupos de cientistas que não possuem estrutura física para obtê-las em suas unidades de pesquisa. 

Pioneirismo e inovaçãoO Nupcelt/UFPI foi fundado em 2010 pelos pesquisadores Maria Carvalho, Napoleão Argôlo, Flávio Alves, Miguel Cavalcante e Williams Neves. Atualmente, o Núcleo conta com 15 pesquisadores permanentes de áreas como engenharias biomédica, química, odontologia, medicina humana, medicina veterinária, dentre outras, e recebe alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, que realizam suas pesquisas no Nupcelt/UFPI. 

O Nupcelt foi o primeiro núcleo de pesquisa do mundo a caracterizar células-tronco mesenquimais de animais silvestres. O pesquisador Napoleão Argôlo, por exemplo, isolou e caracterizou, pela primeira vez no mundo, as células-tronco mesenquimais da medula óssea de um cateto, uma espécie de porco selvagem, durante seu pós-doutorado, em 2012. 

Saiba mais sobre o trabalho no Nupcelt no site https://nupcelt.ufpi.edu.br/ e no Instagram @nupceltufpi.  

 

 

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Este conteúdo é uma produção da UFPI, com apoio da Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC) 

Fonte: Ministério da Educação