A capital acreana, Rio Branco, amanheceu nesta sexta-feira, 23, sendo palco dos momentos finais de um dos encontros mais significativos do ano para a agenda ambiental global: a 15ª Reunião da Força-Tarefa dos Governadores pelo Clima e Florestas (GCF Task Force). O evento, realizado no Teatro Universitário da Ufac, reuniu representantes de 43 estados subnacionais de 11 países – responsáveis por mais de um terço das florestas tropicais do planeta –, e encerrou-se com discursos marcantes e ações que sublinharam o estabelecimento da Nova Economia Florestal.
Na cerimônia de encerramento da assembleia, o governador do Acre, Gladson Camelí, atual presidente da Força-Tarefa, fez uma defesa enfática da preservação das florestas com desenvolvimento social e econômico sustentável. Em suas palavras, o evento não apenas reafirmou o protagonismo do estado na agenda ambiental global, como também serviu de alerta sobre a urgência de investimentos práticos e estruturantes para as populações que vivem nas florestas.
“É preciso sair da teoria para a prática. Os eventos climáticos extremos estão se intensificando e a única resposta eficaz é a união global. O Acre faz sua parte desde 2010, com o Sisa [Sistema de Incentivos por Serviços Ambientais] e o programa de carbono, mas precisamos de mais. Precisamos de justiça climática e apoio dos que têm mais recursos”, frisou o governador.
Camelí destacou o papel do Acre como pioneiro na implementação de políticas públicas voltadas à sustentabilidade ambiental. Criado em 2010, o Sisa e o Programa REM, financiado pelo banco alemão KfW, foram citados como exemplos de iniciativas que levam benefícios reais às comunidades indígenas, ribeirinhas e de pequenos agricultores.
“A chave dessa equação é uma produção sustentável e a efetivação de projetos responsáveis de crédito de carbono. Nenhuma política ambiental será eficiente se as famílias que vivem nas florestas não tiverem recursos garantidos para criar seus filhos”, afirmou.
O reconhecimento internacional
O líder internacional da Força-Tarefa, William Boyd, também discursou no encerramento, exaltando a hospitalidade do povo acreano e o histórico de liderança do Estado em iniciativas voltadas à preservação ambiental, lembrando da importância do Acre na fundação do GCF Task Force e a primeira vez que o estado sediou o evento, em 2014.
“O Acre é exemplo global. Desde a primeira reunião do GCF no Brasil, em 2009, temos visto um movimento crescente e consistente por parte de estados como este. O GCF nasceu para construir uma nova economia da floresta. E é aqui, na Amazônia, que essa economia ganha rosto, voz e esperança”, declarou Boyd.
O líder também destacou que, apesar dos avanços, ainda há uma lacuna na valorização econômica das florestas tropicais pelos mercados globais. “É hora de criar mecanismos inovadores de financiamento que recompensem aqueles que protegem e conservam. As florestas oferecem serviços ambientais que salvam o planeta, mas ainda não são devidamente valorizadas”, completou.
Rumo à prática
Durante toda a semana, os participantes discutiram temas técnicos como bioeconomia, governança ambiental, crédito de carbono e inclusão das comunidades tradicionais. A tônica das discussões, no entanto, foi a urgência em transformar as promessas e compromissos climáticos em ações concretas, com resultados reais para as populações locais.
O lema da edição — “Nova Economia Florestal: conectando governos, povos e oportunidades” — sintetizou o apelo coletivo por um novo paradigma de desenvolvimento. Um modelo que respeite os limites ecológicos, valorize os saberes tradicionais e gere oportunidades para os que vivem e resistem na floresta.
Durante o painel, a secretária de Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, reforçou a importância da escuta ativa e da valorização dos conhecimentos tradicionais na construção de soluções para a crise climática. A gestora destacou que os povos originários não são apenas vítimas das mudanças climáticas, mas anseiam ser protagonistas na preservação das florestas. “Nós não queremos ser apenas convidados, queremos ser parte das decisões. Somos guardiões da floresta e nossas vozes precisam ser ouvidas nos espaços de poder e negociação”, afirmou, recebendo aplausos dos participantes.
Após abertura, teve início o painel de perspectivas dos governadores para a COP30, em que foi enfatizada a importância das lideranças subnacionais no cumprimento dos compromissos globais relacionados ao clima. Durante o encontro, os governadores compartilharam experiências e soluções aplicadas em seus estados, destacando iniciativas voltadas ao fortalecimento comunitário e à valorização dos pagamentos por serviços ambientais como ferramentas essenciais para o desenvolvimento sustentável e a conservação das florestas tropicais.
Participaram do painel autoridades dos estados-membros da GCF Task Force. Representando a Bolívia, estiveram presentes Régis Richter Alencar (Pando), Mário Aguilera Cirbian (Santa Cruz) e Alexandro Unzueta (Beni). Pelo Brasil, participaram Wilson Lima (Amazonas), Carlos Brandão Júnior (Maranhão) e Antônio Denarium (Roraima). Da Colômbia, estiveram presentes Arnulfo Naranjo (Guaiania), Luis Francisco Aguillar (Caquetá) e Luis Alfredo Gutiérrez (Vaupés). O Equador foi representado por André Granda (prefeito de Pastana), Daniela Flor (vice-prefeita de Morona-Santiago) e Rodrigo Gonzalez (vice-prefeito de Orellana). Por fim, do Peru participaram Rosa Cruz (vice-governadora de San Martin), Antonio Pulgar Lucas (Huánuco), Jorge René Silvano (Loreto) e Manuel Rupay (Ucayali).
Legado para o Acre
Realizado pela segunda vez no Acre — a primeira foi em 2014, quando foi redigida a histórica Declaração de Rio Branco — o evento deixa um legado político, técnico e simbólico para o estado: o reconhecimento internacional do protagonismo acreano e a presença de líderes globais que reforçam a relevância do território no debate climático mundial.
“Temos a responsabilidade de garantir a vida para as futuras gerações. E isso não acontecerá apenas com boas intenções, mas com parcerias, investimento e coragem”, sintetizou Camelí.
O encerramento da 15ª Reunião da GCF marca não apenas o fim de um encontro, mas o início de uma nova etapa na luta global contra as mudanças climáticas. E, mais uma vez, é da Amazônia que parte o apelo mais urgente, com a mensagem de que proteger as florestas é preservar a própria existência da humanidade.
Fonte: Governo AC