Agro e a salvação da lavoura

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Werner Roger, colunista do iG
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Werner Roger, colunista do iG

Como no Brasil o “ano” só começa depois do carnaval, o título escolhido deste artigo tem óbvia referência a esta festa popular. O leitor, é claro, merece que o expliquemos. O enunciado faz referência a marchinha composta por João de Barro – o Braguinha – em parceria com Alberto Ribeiro, para a folia de 1938 (nada menos que 85 anos atrás). E, de fato, “Yes, Nós temos banana!”, o produto, em 2021, teve 109 mil toneladas exportadas, o que somou US$ 37 milhões. Estes dados comprovam que o agronegócio – pauta na qual a fruta está incluída – é literalmente a salvação da lavoura para o nosso País. O saldo comercial pelo setor garante um grande saldo da balança comercial e reservas internacionais do Banco Central.

O agronegócio contribuiu com US$ 159 bilhões de tudo que o Brasil exportou no ano passado, valor 32% maior que os US$ 120,5 bilhões de 2021. As importações cresceram bem menos, 11%, de US$ 15,5 bilhões para US$ 17,2 bilhões. O saldo cresceu 35,1% de US$ 105 bilhões para US$ 141,9 bilhões.

Dentre os produtos, destacam-se o etanol e o milho, que alçam o Brasil ao posto de segundo maior produtor e exportador mundial, atrás somente dos EUA. Neste ano, a expectativa é que o nosso País alcance a liderança, e diversos fatores apontam para sua presença crescente no mercado mundial de etanol – entre eles: o advento do etanol de milho; novos mercados mundiais, como a Índia; aumento da proporção do produto na mistura com a gasolina em toda parte; e a introdução da tecnologia flexfuel em outros países, notadamente na Índia, que rapidamente poderá ultrapassar o Brasil na produção e no consumo de etanol.

Para a nossa análise do impacto do agronegócio no País, vamos utilizar o relatório publicado em setembro de 2022 pela USDA (departamento norte- americano de agricultura) que deu destaque ao Brasil. De acordo com o estudo, o Brasil tem a maior área agricultável no mundo e está entre os Top 5 produtores de commodities agrícolas. Desde o início do século XXI, itens como cacau, café, citrus e açúcar cederam espaço na pauta de exportações para grãos e proteínas (carnes). A competitividade do País, que utilizará mais tecnologia, elevando a produtividade, deverá ampliar a nossa presença no comércio mundial de alimentos – deveremos ser cada vez mais o principal fornecedor de alimentos no mundo, com a China se tornando um comprador cada vez maior (rivalizando com os EUA).

Segundo a USDA, o valor de exportação do agronegócio brasileiro cresceu à razão de 9,4% ao ano entre 2000 e 2021, com produção agrícola dobrando e de proteína animal (aves, suína e bovina) triplicando. No ano 2000, a exportação brasileira de soja equivalia a 40% dos EUA; hoje, é 20% maior. Metade da soja comercializada no mundo vem do Brasil – que usa para essa produção gigantesca apenas 17% da área agricultável. Resultado do investimento em tecnologia e genética, ganhos de produtividade, mais área a ela dedicada, tudo em resposta a uma crescente demanda global por alimentos e ração.

O valor de produção do agronegócio foi estimado em 8% do PIB em 2021. Segundo a Fipe, no entanto, se o cálculo incluir o valor adicionado após processamento e logística, o PIB brasileiro tem 29% de sua composição representados por agricultura, pecuária e alimentos, empregando 15% da força de trabalho (15,1 milhões de pessoas), de acordo com o último censo.

A USDA menciona uma série de eventos macroeconômicos e de política governamental desde os anos 70 que não cabe detalhar aqui, mas é preciso destacar o papel da Embrapa na pesquisa e a transição do milho, de cultura de subsistência familiar para produto de exportação. Segundo a FAO (departamento de alimentos da ONU), a área cultivada atual de 63,5 milhões de hectares é uma fração dos 410 milhões ha de área cultivável no Brasil. O potencial para crescimento é imenso, fora os ganhos de produtividade e tecnologia ainda a serem incorporados, especialmente nas regiões de fronteiras agrícolas ainda em transição de correção do solo, por meio de calagem e fertilizantes.

A USDA cita condições favoráveis de clima e solo de Cerrado e Amazônia Legal para a agropecuária, regiões que deverão continuar a abastecer China, Ásia. Conclui-se que soja e milho disputarão espaço nessas regiões com cana- de-açúcar, algodão, pastagens e madeira.

A seguir, traduzimos na íntegra a conclusão da USDA no relatório: “O setor agrícola brasileiro tem potencial para ganhar maior participação no mercado global nos próximos anos. Um país com ampla reserva de terra e água, o Brasil ainda tem muitas terras não cultivadas com potencial para a produção agrícola futura. As projeções agrícolas do USDA para 2031 indicam que 20 milhões de hectares adicionais de terras agrícolas entrarão em produção até 2031, a uma taxa anual de expansão de 2,6%. Esta seria uma das taxas mais rápidas de expansão de terras agrícolas no mundo. O Brasil precisará produzir 76% a mais de grãos e 41% a mais de oleaginosas em 2031 do que em 2021 para atender à demanda projetada de consumidores e de importadores de milho e soja, como a China, segundo projeções do USDA. A produção de carnes vermelhas e aves deverá aumentar de 61 milhões de toneladas em 2021 para 70 milhões de toneladas em 2031.”

Os maiores desafios, sem surpresas, estão relacionados ao custo Brasil: infraestrutura (armazenagem e logística), barreiras sanitárias e ambientais (especialmente lobbies de EUA, China e Europa, que usam entraves e ameaças como técnicas de negociação). Isso a USDA não cita; óbvio. Mas o futuro nos parece promissor. O Brasil é e será cada vez mais o celeiro do mundo. A Trígono acredita e investe nessa tese. “Bananas? Yes, Nós temos”. E temos muito – muito! – mais, na alimentação e no agronegócio, e em volumes e variedades cada vez maiores.

Ainda no espírito musical dessa Resenha, mas de uma época mais próxima a nós, há uma canção (“You can’t stop thebeat”) do filme musical “Hairspray” (2007) que diz: “You can’t stop an avalanche/as it races down the hill/You can try to stop the seasons/but you know you never wil.”l (Você não pode parar uma avalanche/Enquanto ela rola morro abaixo/ Você pode tentar parar as estações do ano/mas sabe que nunca vai conseguir).

Fonte: Economia

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