Com apoio da Lei Aldir Blanc, projeto cultural resgata legado de Padre Luso no Tocantins

Cultura

Num prédio histórico no coração de Porto Nacional, um grupo de jovens, pesquisadores e agentes culturais se reúne para mais do que uma simples oficina. Eles estão ali para preservar, compartilhar e manter viva a memória de um homem que se tornou símbolo de fé e identidade local: Padre Luso. Essa mobilização faz parte da primeira oficina do projeto Viva Padre Luso, uma iniciativa contemplada pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), com o apoio do Ministério da Cultura (MinC) e da Secretaria Estadual da Cultura de Tocantins.

Porto Nacional, cidade marcada por sua arquitetura colonial e forte tradição no turismo religioso, vê nesse projeto a chance de revitalizar seu patrimônio imaterial e material, oferecendo às novas gerações um elo com o passado. 

A presidente da Associação dos Amigos do Padre Luso (AaPL), Zulmira Cardoso, explica que o projeto nasceu do desejo de fortalecer o legado deixado pelo sacerdote.

“Estamos promovendo a cultura, o turismo religioso por meio de ações que conservem a memória de Padre Luso e promovam a integração da comunidade”, afirma.

Com investimento de R$ 130 mil via Política Nacional Aldir Blanc, o projeto está realizando oficinas temáticas que vão desde a história e o patrimônio religioso da cidade até a produção cultural e turismo, além da preservação documental e audiovisual. Segundo Zulmira, “essas ações buscam capacitar jovens, adultos e agentes culturais, promovendo o engajamento com a história local, a valorização da identidade cultural e a ampliação do turismo religioso”.

A oficina, realizada no prédio da ComSaúde, e no Casarão Padre Luso, combina atividades teóricas e práticas. Um dos grandes diferenciais é o uso de tecnologia para digitalizar documentos, fotos e objetos históricos.

“Estamos utilizando equipamentos de alta resolução para garantir a fidelidade do acervo. Todo esse material será disponibilizado em uma plataforma virtual acessível ao público”, detalha Zulmira. Assim nasce o primeiro museu virtual do Tocantins, permitindo que as memórias de Padre Luso cheguem a todos os cantos do país.

Para o secretário municipal de Cultura e Turismo de Porto Nacional, Jerfeson Nascimento, o projeto representa um marco. 

Fé e história

“Porto Nacional é uma cidade que carrega em seu DNA uma fé muito forte. Queremos nos firmar como referência nacional no turismo religioso. O projeto Viva Padre Luso é um passo decisivo para garantir que essa história seja conhecida por muitas outras gerações”, destaca.

A conexão entre fé, história e desenvolvimento cultural está no centro dessa proposta, e a adesão das políticas públicas federais foi fundamental para tirar o projeto do papel. 

“A Lei Aldir Blanc tem sido uma das políticas públicas mais significativas para a cultura brasileira. Sua transformação em política permanente fortalece ainda mais o papel dos municípios na descentralização dos recursos e na valorização da produção artística local”, afirma Jerfeson.

O impacto do projeto vai além das oficinas. Em fevereiro deste ano, o Caminho da Fé Padre Luso — uma peregrinação que revive a trajetória do sacerdote — também recebeu apoio institucional. A cidade começa a desenhar circuitos culturais e roteiros turísticos integrados, conectando museus, igrejas e locais simbólicos da história religiosa local. A Prefeitura, inclusive, assinou contrato com o Iphan para restaurar o Museu Histórico e a Casa de Cultura, ações vistas como fundamentais para consolidar esse movimento.

Quem acompanha de perto todo esse processo é o coordenador do Escritório Estadual do Ministério da Cultura no Tocantins, Cícero Belém Filho. 

“O projeto Viva Padre Luso é um exemplo emblemático da atuação do MinC nos territórios. Ele está totalmente alinhado à estratégia nacional de valorização da memória e do patrimônio”, ressalta. Segundo ele, apoiar projetos que nascem da própria comunidade é essencial para gerar pertencimento e impulsionar a economia local. “Trata-se de uma ação que une cultura, desenvolvimento e inclusão”, completa.

O diretor municipal de Cultura, Neto Ayres, reforça a atuação conjunta com o Governo Federal e estadual para dar sustentação ao projeto. 

“A prefeitura tem contribuído com a divulgação, apoio logístico e promoção de atividades integradas ao projeto. Também estamos trabalhando para valorizar outras ações culturais, como o festival estudantil de música e a reestruturação da Biblioteca Municipal Eli Brasiliense”, pontua.

Para além da digitalização de documentos e acervos em 2D e 3D, o Viva Padre Luso está criando uma rede de cooperação entre saberes locais, tecnologia e gestão pública. Parcerias como a com a ArquiTI, especializada em documentação e memória digital, garantem a qualidade técnica do memorial virtual que está nascendo.

A iniciativa também tem papel importante na dinamização da economia criativa local. Segundo a AaPL, a digitalização, a exposição de acervos e a promoção em redes sociais (@VivaoServodeDeusPadreLuso, @arqui.ti, @casaraopadreluso e @a.pe.luso) estão aproximando a população da própria história, ao mesmo tempo em que geram visibilidade e oportunidades para os trabalhadores da cultura na cidade.

No conjunto, o projeto mostra como ações de base comunitária, quando aliadas a políticas públicas estruturantes, são capazes de transformar realidades. Em tempos em que a memória corre o risco de se esvair, iniciativas como essa são sopros de resistência e esperança.

Política Nacional Aldir Blanc – Ciclo 2

A Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), sancionada em 2022, entrou em seu segundo ciclo em 2025 e continua garantindo apoio financeiro regular e descentralizado a estados, municípios e o Distrito Federal. 

O novo ciclo prevê repasses anuais de R$ 3 bilhões até 2027, com o objetivo de estruturar o setor cultural em todo o país, especialmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros.

Entre as ações previstas estão o apoio à cultura viva, aos Pontos e Pontões de Cultura, à formação artística, à manutenção de espaços culturais e à preservação do patrimônio histórico e imaterial. 

O Ministério da Cultura também iniciou uma série de encontros virtuais para orientar gestores e agentes culturais sobre a nova etapa da política, ampliando a capacitação técnica e promovendo a participação social.

Para saber mais acesse: https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/politica-nacional-aldir-blanc/politica-nacional-aldir-blanc/ciclo-2 

Fonte: Ministério da Cultura