A Região Administrativa de Ceilândia, no Distrito Federal, recebeu na sexta-feira (29) o painel Juventudes em Movimento: arte, identidade e futuro, dentro da Caravana das Juventudes, evento promovido pelo Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC).
Com a realização do Comitê de Cultura do Distrito Federal, o encontro reuniu a secretária de Articulação Federativa e Comitês de Cultura do Ministério da Cultura (MinC), Roberta Martins, representantes do governo do Distrito Federal, de movimentos sociais e jovens artistas para refletirem sobre o papel da cultura na transformação social, na afirmação das identidades e na construção de futuros possíveis.
Durante o painel, Roberta ressaltou que a cultura não se resume a lazer e diversão, mas é também ferramenta de organização coletiva e transformação de realidades.
“A cultura possibilita espaços onde aprendemos a caminhar juntos, a confiar uns nos outros, a projetar futuros coletivos. É isso que estamos vendo aqui: a juventude se reconhecendo como força organizadora da cultura”, afirmou.
A ideia de diversidade das juventudes brasileiras foi destacada por Amauri Corrêa, assessor da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF. Usando a metáfora de uma árvore, ele explicou que se as raízes formadas por trabalhadores e trabalhadoras têm a presença das juventudes negras, indígenas, periféricas, mulheres, população LGBTQIA+, irão sustentar a planta, nutrir o tronco e permitir que a copa floresça. “Se não cuidamos da base, se não olhamos para as raízes, não haverá frutos. Essa diversidade é o que garante o futuro da cultura brasileira”, concluiu.
Juventude plural
O evento também foi espaço para muitas vozes da juventude que têm atuação no cenário cultural do DF. Noah Marques, representante das artes técnicas, falou sobre a necessidade de tornar os eventos culturais mais inclusivos e acessíveis, trazendo sua experiência como homem trans. Ele defendeu ser preciso pensar em acessibilidade em todos os sentidos: física, sensorial, mas também simbolicamente. “Quando uma pessoa trans sobe ao palco, outras pessoas trans entendem que também podem estar aqui. Esse gesto simples abre mundos”, refletiu.
Da cena Ballroom, Mother Simone Demoqueen resgatou a história do movimento, nascido em Nova York, como resposta às exclusões sociais e raciais. “A ballroom é um espaço de resistência e também de formação contínua, onde se aprende o que podemos ser, sem limites impostos de fora. Ao chegar ao Brasil, a ballroom ganhou novas cores, novas vozes, mas manteve o caráter político de criar mundos possíveis a partir da arte”, ressaltou.
O movimento junino foi representado por Tiago Viana Luniere, que apresentou o projeto Distrito Junino, realizado em nove cidades do DF e que reuniu 63 quadrilhas em 2025. Ele realçou o impacto social do movimento. “São mais que espaços de ensaios e apresentações, são acolhimento, onde jovens encontram cuidado, saúde mental, amizade e identidade”, afirmou, dizendo que a maioria dos jovens nas quadrilhas é LGBTQIA+ que encontram ali um lugar seguro para ser quem são e construir algo maior coletivamente. “Esse é o poder da cultura popular”, ressaltou.
Construção democrática
Na defesa da ocupação da universidade pelas juventudes, Bárbara Oliveira, presidenta do Diretório Central Acadêmico da UnDF, fez um chamado direto à participação estudantil, evidenciando que as universidades são locais de juventude, de cultura, de pesquisa e de futuro. “Muitas vezes nós, jovens de periferia, mulheres, negros e negras, não nos reconhecemos nesses lugares e, então, se faz necessário reafirmar a ocupação do espaço”, ressaltou.
Drielle Dias, do Levante Popular da Juventude, também reforçou o caráter político da arte e da cultura, destacando a força das juventudes na organização social. “Jovens, criem espaços onde estarão, ocupem, encham de vida e mostrem que é possível construir aquilo que queremos”, afirmou.
Encerrando a mesa, Carla Rosa, do Conselho de Cultura do DF, celebrou a diversidade dos participantes e lembrou a importância de reconhecer as vitórias já conquistadas. “Essa representação diversa não é apenas simbólica, é concreta. É a prova de que estamos transformando a realidade”, celebrou.
O painel terminou com as apresentações da Casa de Laffond que trouxeram ao palco a energia da cultura ballroom e de Prince Belofá, artista de Sobradinho (DF) que cresceu na poesia e nas batalhas de rima.
O encontro evidenciou a pluralidade das juventudes do DF e reforçou o papel da cultura como espaço de afirmação de direitos, construção coletiva e transformação social.
Texto: Comitê de Cultura no Distrito Federal
Fonte: Ministério da Cultura

