Quando Cristiane dos Santos viu o brilho nos olhos do filho Pedro ao experimentar o remo pela primeira vez, entendeu que aquele não era apenas mais um tratamento. Era o início de uma nova jornada. Aos 23 anos, Pedro convive com as limitações impostas pela paralisia cerebral. Passou por cirurgias dolorosas nos músculos e realiza fisioterapia de manutenção há anos. Mas foi no Instituto Remo Meu Rumo, em São Paulo, que encontrou não só alívio físico, mas também acolhimento, pertencimento e uma nova forma de se comunicar com o mundo.
“Ele tinha resistência nas sessões de reabilitação, sentia dor, chorava… No remo, tudo mudou. Desde o primeiro momento, os olhos dele brilharam”, conta Cristiane, emocionada. “Aqui, ele trabalha todo o corpo, como a postura, força nos braços e nas pernas. E não é apenas ir remar no rio, temos acompanhamento com fisioterapeutas, equipamentos adaptados e, principalmente, afeto e atenção.”
Experiências como a de Pedro se repetem no dia a dia da Raia Olímpica da Universidade de São Paulo (USP), onde funciona o projeto, apoiado pela Lei de Incentivo ao Esporte, mantida e gerida pelo Ministério do Esporte. O Instituto Remo Meu Rumo nasceu há mais de uma década com o objetivo de tornar o processo de reabilitação de crianças e adolescentes com deficiência menos doloroso, mais significativo e, principalmente, mais humano. A triagem é feita em parceria com o Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP.
“O nosso atendimento vai além do esporte, ele inclui fisioterapia, psicologia, assistência social e acompanhamento familiar nos aspectos bio, psico e sociais. Eles são recebidos por profissionais multidisciplinares de várias áreas da saúde, e temos aqui todas as instalações necessárias para esses atendimentos e o posterior trabalho com profissionais de educação física e do remo”, explica o diretor-presidente Candido Leonelli.
Desde 2018, o jovem Miguel, de 20 anos, também participa do projeto. Diagnosticado com síndrome de Down, encontrou no remo e na canoagem ferramentas que ajudaram a moldar sua disciplina, autonomia e até seu futuro profissional.
“Quando o Miguel começou, era um garotinho. Hoje trabalha numa farmácia, atende clientes, entende responsabilidades. O projeto transformou a casa toda. Ele aprendeu a pensar no outro, a remar junto, no esporte e na vida”, diz Ana Beatriz Arruda, mãe de Miguel. Com orgulho, ela cita uma das frases favoritas do filho: “No remo, se eu paro, o barco vira.” E completa: “Costumo dizer que aqui é mais rumo do que remo.”
Lei de Incentivo
Por meio da LIE, o projeto já captou, com a iniciativa privada, mais de R$ 15 milhões ao longo dos anos, para desenvolver e oferecer a prática do remo e da canoagem adaptada para adolescentes com deficiência física e intelectual. Mais de 1.000 alunos já passaram pelo projeto, que atualmente atende cerca de 160 pessoas semanalmente.
“Projetos como esse representam, na prática, tudo aquilo que acreditamos como política pública, inclusão, dignidade e transformação. A LIE é o que torna isso possível. E cabe ao Ministério do Esporte garantir que esses recursos cheguem aonde mais fazem a diferença. Seguiremos fortalecendo essa política, porque cada centavo investido no esporte social é um passo em direção a um Brasil mais justo”, afirmou o ministro do Esporte, André Fufuca.
Diretor-executivo do Instituto, Ricardo Marcondes, destaca a importância da LIE para o desenvolvimento do projeto. “Se não fosse a Lei, não conseguiríamos realizar o nosso trabalho. Há 10 anos fazemos a captação dos recursos com a chancela do Ministério. Ela nos permite promover uma verdadeira transformação social, fortalecer essas crianças, colocar um sorriso no rosto delas, dar protagonismo às suas vidas, e isso é fundamental”, afirma.
Ele enfatiza ainda que o trabalho dos profissionais do Ministério do Esporte é imprescindível para a viabilidade do projeto. “Como é um projeto que demanda vários ciclos e etapas, desde a elaboração, certificação, captação e prestação de contas, os profissionais do Ministério nos orientam em todos os pontos, para que nosso trabalho atenda às exigências do governo federal, especialmente no que diz respeito à prestação de contas”, explica.
“Não é só sobre canoagem ou remo. É sobre autoestima, independência, confiança. Mostramos a esses jovens que eles são protagonistas das próprias histórias”, afirma Daniela Alvarez, professora do projeto e ex-atleta da seleção brasileira de canoagem. “Eles alimentam minha alma diariamente.”
Assessoria de Comunicação – Ministério do Esporte
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Fonte: Ministério do Esporte