Importantes manifestações das culturas tradicionais e populares, os Reinados, Congados e Congadas se tornaram oficialmente, nesta terça-feira (18), Patrimônio Cultural do Brasil. O registro desse bem no Livro dos Saberes foi aprovado, por unanimidade, na 109ª reunião do Conselho Consultivo do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Depois de 17 anos de espera teremos o registro desse bem, representado por diversos grupos, mestres e mestras, lideranças e comunidades, nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, e que representa nossa ancestralidade africana, mantendo vivas as tradições, nos conectando com nossas origens” celebrou o presidente do Iphan, Leandro Grass.
Ele destacou ainda o compromisso do Instituto em avançar no plano de salvaguardas e na construção de estratégias para a preservação e promoção dos Saberes do Rosário e que a atual gestão está priorizando os patrimônios culturais afro-brasileiros e a ancestralidade africana e indígena. “O que realizamos nesta reunião foi um ato de reparação histórica, um ato de justiça social” finalizou.
Para o diretor de Promoção das Culturas Tradicionais e Populares do Ministério da Cultura, Tião Soares, o reconhecimento dos Congados e Reinados representa o resgate da memória de um povo, que mesmo sob o peso do tempo, nunca deixou de celebrar a sua cultura e de ser símbolo de resistência e fé. “O Reinado se ergue como um farol na penumbra da indiferença, iluminando os caminhos da proteção, valorização e do respeito. É um convite a dançar com os ancestrais, a ouvir suas vozes, a vibrar com a força da tradição. E mesmo tardio, esse reconhecimento é um abrigo seguro para a herança de um Brasil que canta e reza em cada congada, eternamente viva”, comemorou.
O processo de registro contou com a relatoria da conselheira, historiadora, mestra (detentora) e líder na Comunidade Jongo Dito Ribeiro em Campinas (SP), Alessandra Ribeiro Martins. “Para mestres e mestras dessas tradições, seus saberes constroem comunidades fortalecidas culturalmente por um modo de vida ancestralizado que, desde as práticas cotidianas aos ritos celebrativos, expressa as habilidades dos povos negros para a resistência cultural, a negociação e, especialmente, para a produção de comunidades afetivas e identidades culturais poderosas: que resistiram, no passado, às violências da escravização e, na atualidade, às violações de direitos perpetradas pelo racismo estrutural e seus desdobramentos”, afirmou Alessandra.
A notícia foi celebrada por diversos grupos de Congados e Reinados, como a Mestra Iara Aparecida Ferreira, do Terno Moçambique Estrela Guia, em Uberlândia, Minas Gerais.
“Com esse registro, a gente se torna mais protegido para que nossos netos, bisnetos possam ter a oportunidade de não deixar o nosso legado acabar. Então, isso é uma segurança para nós, enquanto congadeiros. Foi um momento de muita emoção, de muito choro, e de lembrar quantas pessoas, quantos mais velhos de nós morreram, para que esse registro tivesse agora sendo colocado às nossas mãos e nas mãos da sociedade”, observou a Mestra Iara.
E completou: “A gente sabe que um registro não vai acabar com racismo, com preconceito, com essas denominações que infelizmente açoitam a nossa comunidade, principalmente, a sociedade congadeira, mas nos alivia um pouco de pensar que foi deixado para nós um instrumento de proteção”.
O mais novo patrimônio cultural brasileiro consiste em um conjunto diversificado de saberes da ancestralidade afro-brasileira que são atualizados por meio da devoção ao Rosário. Essas tradições atravessaram mais de 300 anos de história, chegando ao século 21 com transformações e ressignificações, mas sempre mantendo uma identidade fundamental: a ancestralidade de matriz africana com canto, ritmo e dança. Na maior parte das vezes há a coroação de reis e rainhas congos (ou do Congo) como parte principal de um festejo que, ao longo de dias, cumpre alvoradas, levantamento de bandeiras, rezas, cortejos e missas.
Fazem parte dessas tradições elementos diversos como massambiques (moçambiques), congos (congados, conguistas, congueiros), catopês (catupés, catopés), marujos, caboclos (caboclinhos, penachos, cabocladas), tamborzeiros, pifeiros, entre outros grupos rituais, e reinados (côrtes ou tronos coroados) descritos e registrados por pesquisadores, em diferentes contextos e regiões do Brasil, especialmente nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Fonte: Ministério da Cultura