Seminário internacional debate formas de mensurar o uso do tempo no trabalho de cuidados

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Com uma carga de trabalho não remunerado que chega a ser o dobro da dos homens, as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado. Como medir e transformar esse “tempo invisível” em políticas públicas que promovam a equidade de gênero foi o tema central de um debate entre diversos especialistas brasileiros e de fora do país, nesta quinta-feira (25.09), no Rio de Janeiro.

Em 2022, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, as mulheres trabalharam em casa, em média, 21,6 horas por semana, quase o dobro dos homens (11,8 horas). O recorte de raça aprofunda o abismo. As mulheres negras dedicaram 21 horas semanais aos cuidados, uma carga superior à das mulheres brancas (19,5 horas).

No acumulado anual, essa diferença representa para as mulheres negras mais de uma semana e meia de trabalho extra em relação às brancas. Na comparação com os homens brancos, a sobrecarga chega a 11 semanas e meia a mais de trabalho não remunerado. Essa é uma das principais causas para que elas não consigam se inserir no mercado de trabalho.

No segundo dia do seminário internacional: “Contando as horas e medindo os cuidados: metodologias e aplicações das pesquisas de uso do tempo”, os participantes reforçaram que as políticas de cuidados devem se fundamentar em dados detalhados e o IBGE prepara uma pesquisa sobre o tema.

A agente de Pesquisas e Mapeamento do instituto, Gabriela Gomes, vive na prática essa realidade. Responsável pela Pnad no centro da cidade do Rio de Janeiro, ela visita até 14 lares por semana. “Percebemos que as pessoas não veem o cuidado como trabalho não remunerado. Elas não calculam o tempo gasto, como levar uma criança à escola. Tudo isso é automático na rotina”, relatou.

Os principais desafios para medir o uso do tempo no Brasil e na América Latina incluem harmonizar metodologias entre países, superar limitações de módulos curtos em pesquisas domiciliares, ampliar financiamento e continuidade das pesquisas e traduzir dados em políticas públicas efetivas.

Para avançar no tema, a diretora de Economia do Cuidado do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Luana Pinheiro, explicou que o segundo dia do seminário focou na realidade brasileira. “Nosso objetivo é entender o caminho que nos trouxe até aqui, analisando a colaboração entre o IBGE, o governo, os movimentos sociais e a academia”, afirmou.

“Medir essas informações é fundamental para orientar a política pública. Os dados atuais já revelam fortes desigualdades no uso do tempo, com impactos diretos no mercado de trabalho, na participação social, na pobreza e no crescimento econômico”, prosseguiu Pinheiro.

A diretora do MDS enfatizou que o cuidado impacta a vida pessoal, profissional, a sociedade e a economia como um todo. No entanto, para monitorar de forma eficaz a implementação de políticas públicas, são necessários dados mais refinados.

“O centro do nosso debate é como produzir informações que guiem nossas ações em direção a uma sociedade mais igualitária. Dados precisos permitem corrigir rotas e garantir que chegaremos ao destino desejado”, concluiu Pinheiro.

As desigualdades também se refletem quando é feito o recorte da renda. Quanto menores os ganhos, mais tempo as mulheres dedicam ao trabalho doméstico e de cuidado.

Assim, enquanto as mulheres com renda de oito salários-mínimos dedicavam 12,7 horas semanais a esse trabalho, de acordo com a PNAD Contínua de 2022, as mulheres com renda de até um quarto de salário mínimo dedicavam, em média, 24,6 horas médias semanais. Isso totalizava uma diferença de quase 12 horas por semana.

O seminário internacional: “Contando as horas e medindo os cuidados: metodologias e aplicações das pesquisas de uso do tempo” foi realizado em parceria entre o IBGE, o MDS, e o Made/USP e contou com o apoio do BID, ONU Mulheres e AGU.

Assessoria de Comunicação – MDS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome