O Ministério da Cultura (MinC) deu início, nesta terça-feira (7), ao 1º Seminário Nacional de Ações Afirmativas na Cultura: Política Nacional Aldir Blanc em Todo Canto do Brasil, um encontro dedicado a debater e fortalecer políticas culturais voltadas à diversidade, equidade e inclusão social.
Antes do início da programação, o secretário-executivo adjunto do MinC, Cassius Rosa, deu as boas-vindas ao público, destacando o caráter histórico do encontro e os avanços recentes na reconstrução das políticas culturais no país. Ele relembrou os desafios enfrentados no início da gestão da Pasta e ressaltou o impacto das ações implementadas e articuladas desde então.
“Nós estamos investindo em políticas afirmativas mais do que o orçamento de muitas ações de outros ministérios. A gente ajuda a construir cidadania, ajuda a construir identidade no território e ajuda o desenvolvimento econômico e social também nesses territórios”, declarou.
Em parceria com o Sesc-SP e o Comitê de Cultura em São Paulo, o seminário acontece no Sesc Bom Retiro e marca um momento estratégico para a construção coletiva de políticas afirmativas que ampliem a participação e o reconhecimento de grupos historicamente excluídos dos espaços culturais.
Abertura com vozes diversas e potentes
A mesa de abertura, intitulada Ações afirmativas na cultura para construção do bem viver, deu o tom dos debates do encontro. Participaram a influenciadora, jornalista e youtuber Tia Má, a coordenadora de comunicação institucional em Geledés Instituto da Mulher Negra, Natália Carneiro, a escritora, professora e ativista indígena Eliane Potiguara, e o influenciador e ativista Ivan Baron.
Maíra abriu a conversa ressaltando a importância de reivindicar suas origens como mulher negra e nordestina. “É muito importante reivindicar o meu lugar, sempre falar da onde eu venho, que pra mim é muito importante”, afirmou. A mediadora ainda revelou a importância da cultura em sua formação desde a infância, e concluiu que “cultura não é privilégio, é direito”.
Em seu discurso, Ivan explicou sua vivência atravessada por múltiplas identidades — LGBT, nordestino e PCD. O influenciador trouxe uma reflexão contundente sobre inclusão e representatividade: “Se tá apenas o Ivan, não é inclusão, é exceção”, discursou. “Inclusão é compromisso, inclusão é demanda, é sobre se inquietar, é não tá tudo bem”, completou, ao diferenciar inclusão de acessibilidade.
Eliane Potiguara salientou a centralidade do pertencimento ancestral e a luta pela terra para os povos originários. “Eu sou um coletivo, represento um coletivo e, principalmente, uma ancestralidade”, iniciou. Para ela, demarcar terras é uma política cultural inegociável: “Sem essa demarcação nós não temos identidade, porque a nossa identidade está intrinsecamente ligada às terras”.
Por sua vez, Natália Carneiro compartilhou experiências de acesso desigual à cultura ao longo de sua trajetória. Destacou a importância das ações afirmativas como ferramentas de memória, legado e emancipação: “Quando a gente tá falando de ações afirmativas na cultura, a gente tá falando de memória, a gente tá falando de legado, a gente tá falando de posterioridade, de possibilidades de sonhar”.
Com diferentes trajetórias e campos de atuação, os convidados ressaltaram a importância da representatividade e do protagonismo de pessoas negras, indígenas e com deficiência na formulação e execução de políticas culturais. A fala dos participantes reforçou a ideia de que as ações afirmativas são ferramentas centrais para a construção do “bem viver” — conceito que valoriza o respeito à diversidade, à ancestralidade e à justiça social.
Memória, conquistas e futuro em debate
Na sequência, a Mesa 1 – Ações afirmativas na cultura: memória, conquistas e futuro reuniu nomes com forte atuação nos territórios e nas políticas públicas. Participaram o pesquisador e agente cultural George Bispo; a ex-vereadora e integrante do movimento Quilombo Periférico de São Paulo, Elaine Mineiro; o doutorando indígena M’byá Guarani Daniel Iberê; e a agente cultural da Funarte, integrante do grupo de trabalho de acessibilidade, Gislana Monte Vale.
A conversa foi mediada por Mariana Braga, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do MinC. Os debatedores compartilharam experiências e reflexões sobre os avanços conquistados ao longo dos anos, os desafios persistentes na consolidação de políticas afirmativas e os caminhos possíveis para um futuro mais inclusivo e plural na cultura brasileira.
“Teríamos, nesse governo, essa tarefa de trazer as ações afirmativas de forma transversal em todas as políticas públicas. As ações afirmativas da cultura extrapolam a dimensão do indivíduo, perpassam modos de vida, de vestir, de cantar e festejar”, iniciou a mediadora da mesa.
George Bispo compartilhou sua trajetória pessoal e ressaltou o poder transformador da arte e da cultura nas periferias. Ele defendeu o aumento do acesso aos editais e recursos, denunciando a concentração de investimentos em regiões elitizadas, como o bairro de Pinheiros, em São Paulo.
“Eu quero falar do poder da arte e da cultura na transformação de um indivíduo. As ações afirmativas sempre foram feitas pelo nosso povo antes do Estado”, completou.
Gislana Montenegro destacou a importância de construir políticas públicas “com” os grupos sociais. “A política pública é um lugar importante se ela for construída com, ela não pode mais ser para e sobre”.
“Não quero estar num teatro onde só tem cegas, só negros, só indígenas. Eu quero espaços compartilhados”, defendeu.
Para Elaine Mineiro, políticas afirmativas e recursos públicos são essenciais para garantir expressão artística e justiça territorial: “Não existe política pública sem recurso.”
Encerrando a mesa, Daniel Iberê reafirmou a cultura como identidade viva enraizada no território. “A cultura dos povos indígenas não nasce quando o Estado decide reconhecê-la. Assim como não morre quando esse mesmo Estado pretende apagá-la. Nós, povos originários, não temos cultura. Nós somos cultura”.
Fonte: Ministério da Cultura