Incidente durante voo de reentrada marca terceira falha consecutiva do protótipo e acende alerta sobre cronograma apertado da NASA para a Lua
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A SpaceX enfrentou mais um revés em seu ambicioso programa espacial nesta terça-feira. Durante um teste crítico para validar a capacidade de reentrada da nave Starship, a companhia perdeu comunicação e controle da aeronave no espaço, resultando na destruição do veículo. O fracasso ocorreu após 40 minutos de voo, durante a fase de retorno à Terra, e adiciona incertezas aos planos da NASA de usar a Starship para levar astronautas à Lua em 2026 como parte do programa Artemis.
A Starship decolou do Centro Espacial Starbase, no Texas, às 9h05 (horário local), acoplada ao foguete Super Heavy. A fase inicial do lançamento transcorreu sem problemas, com a separação bem-sucedida dos estágios. No entanto, ao reentrar na atmosfera terrestre, a nave enfrentou “anomalias térmicas e de controle”, segundo comunicado da SpaceX. Sensores indicaram superaquecimento irregular no escudo térmico, seguido por uma falha nos propulsores de manobra. A perda de estabilidade levou à desintegração da Starship sobre o Oceano Pacífico.
Em uma transmissão ao vivo após o acidente, Elon Musk tentou minimizou o revés: “Testes como este são parte do processo. Coletamos dados valiosos para melhorar a resistência da Starship. Estamos mais perto do que nunca de dominar a reentrada interplanetária.” A empresa afirmou que trabalhará com a FAA e a NASA para investigar as causas técnicas, mas não divulgou um prazo para novos testes.
A Starship é peça central não apenas para a missão Artemis III, da NASA, mas também para os planos de colonização de Marte, promovidos por Musk. Este foi o terceiro teste orbital fracassado desde 2024, todos relacionados a desafios de controle térmico e de navegação. A NASA, que investiu US$ 4,2 bilhões no desenvolvimento da Starship como “módulo lunar humano”, já sinalizou preocupação com os atrasos. Em fevereiro, o administrador Bill Nelson admitiu ao Congresso dos EUA que “alternativas estão sendo avaliadas”.
Especialistas destacam riscos
Para Thiago Borba, engenheiro espacial brasileiro e consultor da Agência Espacial Europeia (ESA), “a SpaceX está enfrentando os limites da física. A Starship é a maior nave já construída, e controlar sua reentrada exige precisão sem margem para erro. A busca por redução de custos pode estar deixando brechas críticas.” Já a ex-astronauta Pamela Melroy, atual vice-administradora da NASA, defendeu a parceria: “Inovação requer tolerância a falhas, mas o relógio está correndo. A segurança dos astronautas é inegociável.”
O fracasso deve adiar ainda mais a Artemis III, originalmente prevista para 2026, e pressionar o governo dos EUA a considerar outras opções, como o foguete SLS (Space Launch System) da Boeing ou até mesmo colaborações internacionais. Enquanto isso, empresas como a Blue Origin, de Jeff Bezos, aceleram o desenvolvimento do módulo lunar Blue Moon, prometendo “uma abordagem mais metódica”. A queda da Starship reacende o debate sobre os desafios técnicos e éticos da corrida espacial liderada pela iniciativa privada. Enquanto a SpaceX insiste que cada falha é um passo rumo à Mars, críticos argumentam que os riscos podem estar sendo subestimados em nome da velocidade. O mundo aguarda para ver se a próxima geração de naves espaciais será capaz de unir ambição e segurança — ou se a exploração cósmica do século XXI enfrentará seu primeiro grande fracasso.