PF Investiga Senador Eduardo Gomes por Suspeita de Desvio de Emendas Parlamentares

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O caso, vinculado à Operação Emendário, já resultou em denúncias contra três deputados do PL e ganhou novos contornos com as evidências que ligam o parlamentar ao suposto rateio de recursos públicos

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Fonte: Agência Senado

A Polícia Federal (PF) solicitou a abertura de um inquérito para investigar o senador Eduardo Gomes (PL-TO), atual 1º vice-presidente do Senado e ex-líder do governo Bolsonaro, por suposto envolvimento em um esquema de desvio de emendas parlamentares. O caso, vinculado à Operação Emendário, já resultou em denúncias contra três deputados do PL e ganhou novos contornos com as evidências que ligam o parlamentar ao suposto rateio de recursos públicos.

A investigação avançou após a análise de celulares apreendidos durante buscas relacionadas aos deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA)Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE), denunciados em 2024 por corrupção passiva e organização criminosa. Entre as conversas, destacam-se trocas de mensagens entre Carlos Lopes, secretário de Maranhãozinho, e Lizoel Bezerra, identificado como ex-assessor de Eduardo Gomes.

Nas mensagens, Lizoel cobrava o pagamento de um “saldo devedor” de 3 milhões, exigindo pelo menos  150 mil imediatamente para cobrir despesas urgentes, incluindo uma viagem. Em uma delas, enviada em fevereiro de 2022, ele escreve: “Bom dia, amigo. Me dá uma posição. Homem tá na agonia. Pagar contas e viajar”.

A PF identificou que o “homem agoniado” seria o próprio senador Gomes, com base em um print de conversa onde um contato com seu nome e foto do mapa do Tocantins pergunta: “O cara mandou?”. Lizoel responde: “To esperando ele falar aqui comigo”.

Segundo a PF, as mensagens sugerem que o esquema envolvia porcentagens de emendas destinadas pelo senador, sob gestão do deputado Maranhãozinho. O relatório destaca que o método é similar ao já investigado, apenas com mudança nos parlamentares envolvidos.

A preocupação de Lizoel com o atraso nos pagamentos era explícita: “E a pior parte disso tudo é eu ficando queimado com o amigo e nesse próximo orçamento não vou ter nada. Isso é de fuder” . A dívida, no entanto, não teve sua origem esclarecida, e as conversas seguiram até março de 2022, véspera de uma operação na casa de Carlos Lopes.

Em nota, a assessoria de Eduardo Gomes negou irregularidades, afirmando que as emendas destinadas a outros estados foram feitas em sua função como relator setorial do orçamento, atendendo a pedidos de parlamentares. A única exceção seria uma emenda de R$ 1 milhão para o Rio Grande do Sul, durante uma calamidade.

Sobre Lizoel Bezerra, a defesa alegou que ele atuou apenas como motorista em campanhas políticas e não tinha vínculo com o gabinete do senador.

O caso ocorre em um momento sensível para o PL, partido que ainda enfrenta desgastes ligados ao governo Bolsonaro. Gomes, figura influente no Congresso, já foi líder governista e relator do Orçamento em 2019, cargo que amplia seu acesso a recursos públicos.

A PF encaminhou o relatório à Procuradoria-Geral da República (PGR), que determinou a abertura de diligências preliminares em agosto de 2024. O ministro do STF Cristiano Zanin retirou o sigilo do processo, e a Primeira Turma do Supremo deve julgar as denúncias contra os deputados ainda neste mês 57.

O caso de Gomes não é isolado. Em dezembro de 2024, o STF suspendeu a distribuição de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão devido à falta de transparência, após ação do PSOL. O sistema de “apadrinhamento” por líderes partidários, que oculta os parlamentares beneficiados, tem sido alvo de críticas recorrentes 12.

A investigação sobre Eduardo Gomes coloca em xeque a integridade do sistema de emendas, já sob escrutínio por práticas obscuras. Enquanto a PF busca esclarecer o fluxo de recursos, a resposta da Justiça e do Congresso definirá se o caso será um marco na luta contra a corrupção ou mais um capítulo de impunidade.

 

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